Fórum Econômico Mundial: desigualdade de gênero global cai para 68,8% mas paridade plena ainda levará mais de 100 anos
- Vez & Voz
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Queda atual foi impulsionada principalmente por avanços em empoderamento político e participação econômica

A desigualdade global de gênero caiu para 68,8% – o maior avanço desde a pandemia de Covid-19 –, de acordo com o 19º Relatório de Desigualdade Global de Gênero 2025, do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), lançado nesta quarta-feira (12).
Mantido o ritmo atual, a plena igualdade entre homens e mulheres só será atingida em 2148, ou seja, daqui a 123 anos, uma melhoria de 11 anos em relação à estimativa da edição anterior, mas ainda mais de um século aquém dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
O documento, que abrange 148 economias, avalia desde 2006 as desigualdades de gênero em participação econômica, escolaridade, saúde e sobrevivência, e empoderamento político. Ele integra as estatísticas mais recentes, comparáveis internacionalmente, de entidades como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a UNESCO, a ONU Mulheres, o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde (OMS), bem como dados do conjunto de dados Mulheres, Empresas e Direito do Banco Mundial e do Gráfico Econômico do LinkedIn.
Este ano, os resultados mostram que o bom desempenho foi impulsionado principalmente por avanços em empoderamento político e participação econômica. O primeiro item apresentou a maior melhora geral, com a diferença diminuindo em 9,0 pontos percentuais desde 2006, mas, no ritmo atual, ainda levará 162 anos para eliminá-la completamente.
A participação e as oportunidades econômicas aumentaram 5,6 pontos percentuais ao longo do tempo, com a paridade projetada para levar 135 anos às taxas atuais. Os indicadores de escolaridade, saúde e sobrevivência se mantiveram próximos à paridade, acima de 95%.
"Em um momento de elevada incerteza econômica global e baixa perspectiva de crescimento, combinado com mudanças tecnológicas e demográficas, o avanço da paridade de gênero representa uma força fundamental para a renovação econômica", disse Saadia Zahidi, diretora geral do WEF, em comunicado. "As evidências são claras. As economias que fizeram progressos decisivos em direção à paridade estão se posicionando para um progresso econômico mais forte, inovador e resiliente."
Os 10 países com os melhores índices
Islândia aparece pelo 16º ano consecutivo como líder global em igualdade de gênero, tendo eliminado 92,6% das desigualdades entre homens e mulheres. As 10 economistas mais bem posicionadas, com dominância da Europa, eliminaram pelo menos 80% de suas desigualdades de gênero, sendo as únicas a atingir esse marco.
Islândia – 92,6%
Finlândia – 87,9%
Noruega – 86,3%
Reino Unido – 83,8%
Nova Zelândia – 82,7%
Suécia – 81,7%
República da Moldava – 81,3%
Namíbia – 81,1%
Alemanha – 80,3%
Irlanda – 80,1%
Líderes por região
A América do Norte é a líder mundial em paridade de gênero, com índice de 75,8%. O desempenho da região é particularmente forte em participação econômica e oportunidade (76,1%). Mas também obteve progressos importantes em empoderamento político desde 2006, reduzindo a diferença de paridade nesta categoria em 19,3 pontos percentuais.
O segundo lugar é ocupado pela Europa, com 75,1%, tendo reduzido 6,3 pontos percentuais de sua diferença geral desde 2006. O continente apresenta melhor resultado em empoderamento político (35,4%), ocupando a posição mais alta globalmente.
Pelos dados do relatório, a América Latina e o Caribe se destacam como a região com a taxa de progresso mais rápida, ocupando o terceiro lugar (74,5%) e tendo avançado 8,6 pontos percentuais desde 2006.
Em quarto lugar está a Ásia Central (69,8%). Armênia (73,1%) e Geórgia (72,9%) são os países com melhor desempenho na região, cada um eliminando mais de 70% de suas disparidades de gênero e liderando o progresso regional em participação econômica e desempenho educacional.
O Leste Asiático e o Pacífico, por sua vez, ocupam o quinto lugar (69,4%), alcançando a segunda maior pontuação regional em participação econômica e oportunidade, com 71,6%. Nova Zelândia (82,7%), Austrália (79,2%) e Filipinas (78,1%) são os países com melhor desempenho.
A África Subsaariana é a sexta colocada (68,0%). A região obteve progressos significativos em empoderamento político, com as mulheres ocupando atualmente 40,2% dos cargos ministeriais e 37,7% dos assentos parlamentares.
O sul da Ásia é o sétimo (64,6%). Bangladesh (77,5%) é o país com melhor desempenho na região e o único entre as 50 maiores do mundo. O WEF destaca que melhorias significativas no nível educacional desde 2006 estão criando uma base para ganhos econômicos futuros.
Por fim, o Oriente Médio e o Norte da África ocupam a oitava posição (61,7%). A região demonstrou uma melhora considerável no empoderamento político desde 2006, com a média regional mais que triplicando e ganhando 8,3 pontos percentuais nessa categoria.
Mulheres ocupam menos cargos de liderança, apesar da maior escolaridade
O 19º Relatório de Desigualdade Global de Gênero 2025 mostra que, mesmo com algumas melhoras, ainda persistem gargalos profundos. Um deles é que as mulheres, que representam 41,2% da força de trabalho global, ocupam apenas 28,8% dos cargos de liderança.
Ainda segundo o documento, as mulheres superam os homens no ensino superior, mas sua presença em cargos de liderança sênior estagna à medida que os níveis de educação aumentam – mesmo as mais instruídas representam menos de um terço dos altos gestores.
"O progresso das mulheres na liderança continua a diminuir. À medida que a economia global se transforma, a IA acelera e os países buscam combater a estagnação do crescimento, essa desigualdade de liderança deve soar o alarme", salientou Sue Duke, diretora global de Políticas Públicas do LinkedIn, em comunicado.
Ela acrescentou que “a experiência diversificada e as habilidades humanas únicas que as mulheres trazem para a mesa de liderança são essenciais para desbloquear todo o potencial de uma economia impulsionada pela IA, mas estão sendo negligenciadas exatamente no momento em que são mais necessárias".
O caminho para a liderança é cada vez menos linear para os trabalhadores em geral, mas especialmente para as mulheres. Dados do LinkedIn revelam que é mais do que o dobro da frequência de líderes que trabalharam em pelo menos dois setores, funções ou empresas diferentes, sugerindo tanto uma maior adaptabilidade quanto possíveis barreiras ao avanço linear dentro de um único setor.
As interrupções na carreira estão no centro dessa dinâmica, com as mulheres tendo 55,2% mais probabilidade de fazê-las do que os homens. Elas também passam, em média, meio ano a mais do que os homens afastadas do trabalho. A principal razão para isso são as responsabilidades de cuidadores.
Além disso, o WEF informa que as mulheres em economias de baixa e média renda, em particular, migraram para empregos formais e melhor remunerados em setores de exportação nos últimos anos. Mas essas funções podem estar em risco diante de potenciais contrações comerciais.
Como evidenciado pela pandemia de Covid-19, embora homens e mulheres sofram com choques comerciais, os efeitos para as mulheres tendem a durar mais e são mais difíceis de reverter, exacerbando as disparidades preexistentes em renda, patrimônio e riqueza.
Diante disso, o relatório pontua que será importante manter em primeiro plano os impactos de gênero no emprego e nos salários da fragmentação comercial e seus efeitos sobre o crescimento e a prosperidade à medida que a política comercial evolui em 2025.
Fonte: Época Negócios