
Meu primeiro contato com o transporte foi na Quimilog, isso há uns 12 anos. Nunca havia me imaginado na Logística, mas acabei me apaixonando por este setor.
Meu marido também atua na área de transporte. Somos uma casa de logísticos, então, quando a gente chega do serviço e fala do trabalho, temos uma enorme compreensão do dia a dia um do outro.
Quando me convidaram para assumir o cargo de supervisora de operações foi algo que, na época, me pareceu bem desafiador. Eram 25 homens e eu, a única mulher da equipe, que não tinha experiência alguma na função.
No setor de transporte, a gente vê este desiquilíbrio, entre o número de homens e mulheres, mas percebo que elas estão conquistando os espaços que merecem. Estão entrando em áreas que não eram dadas a oportunidade, e melhor de tudo: se destacando.
O que pesou para eu assumir este cargo foi o meu bom relacionamento com todo o time. Isso me abriu portas. E pelo fato de ter uma boa convivência com todos, no fim, foi mais tranquilo do que pensei.

Com colegas nunca tive problemas, mas com fornecedores já tive algumas chateações. Havia um fornecedor que tinha um certo histórico de aspereza com mulheres. Sempre com mulheres.
Uma vez, ele bateu o telefone na minha cara. Também era meio abusado, mal-educado, gritava. O tipo de pessoa que a gente não quer por perto. Óbvio que a gente sempre passa por momentos altos e baixos, isso tanto no profissional quanto no pessoal.
Em 2023, tive um problema de saúde. Descobri um câncer gástrico. Assim, foi um baque.
Iniciei o tratamento e recebi aqui na empresa todo o apoio necessário. Nem sabia que era tão querida como pessoa. Minha rede de apoio foi além do que eu esperava.
Foi bom sentir esse carinho. Mas foi uma barra também.
Nesse período, optei por não parar de trabalhar. Fazia as quimioterapias a cada 15 dias. Na semana em que isso acontecia, ficava mal por um tempo, mas assim que me recuperava já ia para a empresa.
Trabalhar me ajudava a distrair a mente e evitar ficar pensando na doença.
Somos mais fortes do que a gente imagina. Não se pode abaixar a cabeça diante dos obstáculos.
Aprendi isso com minha mãe, que é uma fortaleza em pessoa. Ela já passou por muitas coisas na vida, parte da minha inspiração e força vem dela.
Minha mãe também fez um tratamento contra o câncer, o de mama, e nunca se desesperou.
Recentemente, também enfrentamos outra adiversidade, a situação das enchentes aqui no Rio Grande do Sul. Estava há dois dias operada quando aconteceram as chuvas, e precisei sair de casa correndo.

O dia em que a água começou a subir, ainda estava com os pontos da cirurgia. Após descobrir o câncer soube que era genético. Fiz um mapeamento e fui diagnosticada com algumas propensões de ter alguns cânceres ao longo da vida, um deles seria no útero, então o retirei por precaução.
A água chegou a 1,80 m. Antes, nunca havia tido sequer uma poça de água na frente de casa. Liguei para o meu marido e pegamos duas mudas de roupa, as nossas duas cachorrinhas e saímos.
Foi inimaginável. A água simplesmente não escoava. Nunca havia acontecido isso.
Moro em um sobrado, então o primeiro andar ficou todo alagado. Alguns eletrônicos conseguimos subir para o andar de cima. Só que muita coisa ficou debaixo d’água como sofá, geladeira, fogão. Tudo foi perdido. Ficamos 30 dias sem conseguir voltar para casa.
Quando vi a inundação pensei em ir para a minha mãe. Até que ela me ligou avisando que a água estava subindo lá também. Então, todos fomos para a casa do meu irmão, numa parte mais alta da cidade.
Deveria até ter ficado mais tempo em repouso, mas não consegui. Não queria ficar sem fazer nada. Fui para a rua ajudar a entregar doação para quem ficou desabrigado.
Ajudei a direcionar os caminhões que chegavam com donativos, mostrando onde eram os abrigos e quem estava mais necessitado. Valeu a pena ajudar as pessoas que precisavam. A situação foi bem triste. A gente ficou por trinta dias aqui no meio do caos.
Como meu bairro foi 100% afetado, atualmente, se vê por aqui obra o tempo todo. Mais e mais caminhões chegando, dessa vez com materiais de construção e móveis.
Sinto muito orgulho de trabalhar neste setor, porque o caminhão, para a gente, representa a esperança de reconstruir o que foi perdido.

Claro, que sei que não é só caminhão, o transporte tem toda uma cadeia de gente por trás que faz as coisas acontecerem.
Lembro que foi muito emocionante ver os primeiros caminhões de doação chegarem por aqui.
Mas, o fato é que tenho muito orgulho de trabalhar nesse setor que leva comida, roupa, móveis e tudo mais que as pessoas necessitam. Com as enchentes, isso ficou ainda mais em evidência.
Por Ana Paula Rossato Cordova, supervisora de operações na Quimilog
Comments