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Camila Rangel: “Quando somos a minoria, a gente tem que se fazer notar”

Camila Rangel
Acervo pessoal

Sou de São Paulo, de uma cidade chamada Cananeia, que fica no litoral do estado. Vim a Curitiba para estudar e acabei ficando. Casei e construí minha família por aqui.

Logo que cheguei, entrei no Setcepar (Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná), para trabalhar na área administrativa. Em 15 anos, passei pelo setor de marketing, fui para a assessoria da presidência e então virei gerente-executiva.

Assim que comecei, falei para o superintendente que havia na época: um dia eu vou sentar aí nesta sua cadeira. Quando ocupei a função que um dia foi dele, ele me ligou para falar: Parabéns! Você disse e conseguiu chegar lá. 

No Setcepar trabalho com 25 diretores. Destes, 21 são homens. Só por isso já está evidente que atuamos em um setor predominantemente masculino. Então, quando se é mulher, você trabalha muito mais para mostrar que você tem competência para estar onde está.

Não é um desafio só meu. Na transportadora, você vê uma pequena parcela de motoristas ou ajudantes mulheres. As mulheres dentro do nosso segmento ficam restritas à área administrativa.

Essa não é uma questão só das transportadoras, mas existe a falta de equidade nos vários setores do país. Pesquisas mostram que os homens ganham de 20 a 25% a mais que as mulheres, mesmo desempenhando a mesma função.

E quando somos a minoria, a gente tem que se fazer notar. Se você está em uma reunião com homens, eles precisam saber que você está ali. Já estive em reuniões que passaram a minha vez e não me deixaram falar. Então tive que levantar a mão e dizer: agora sou eu.

E a intenção não é mostrar que somos melhores do que os homens, não é isso, o fato é que somos um ser humano, independente de gênero, mereceremos ser ouvidas.

Acho que o Vez & Voz vem para isso — mostrar que a mulher pode estar onde quiser. Isso não é feminismo, é sobre a importância da mulher no mercado de trabalho.

As entidades do setor de norte a sul deveriam levar os propósitos do Vez & Voz consigo. Porque cada vez mais, as mulheres estão no mercado de trabalho e as empresas de transporte reclamam da falta de mão de obra. A questão é: por que a conta não fecha?

Isso nos leva a perguntar-se: por que a mulher não pode ser motorista ou ajudante? Por que não pode ser uma gestora de frota? Dificilmente, você vê uma mulher diretora de operações.

Ouvimos muitas transportadoras falando sobre ESG, diversidade, igualdade, mas ser de verdade, é diferente de só falar. Requer que as empresas olhem para as mulheres de outra forma, que comecem a capacitá-las, que tenham programas de liderança, de inserção delas na parte operacional.

Envolve fazer esse mapeamento porque na empresa há mulheres talentosas que querem ir além, mas não conseguem fazer porque não acreditam que podem entrar em um lugar pensado só para os homens.

Vemos várias histórias, no Vez & Voz, de mulheres que conseguem virar uma motorista e se tornam uma profissional de referência. Mas para isso, primeiro precisa da oportunidade.

Outro ponto que precisa ser trabalhado nas empresas é o desafio de ser mãe e profissional. Agora estou passando por essa fase porque me tornei mãe. Tenho um filho de um ano e três meses.

Sabe, faz parte do desafio equilibrar cada coisa ao seu tempo. E o trabalho se torna mais leve quando a gente é apaixonada pelo que faz. 

Se você é mulher e deseja trabalhar em alguma função que é apenas comum para os homens, aconselho: não tenha medo vá em frente! Porque quando você se encontra naquilo que gosta de fazer, você supera qualquer adversidade na sua vida. Nunca desista de ser feliz.

Por Camila Rangel, gerente-executiva do Setcepar.

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