Venho de uma família na qual o magistério, por um longo período, foi a expectativa de carreira para as mulheres e a engenharia para os homens.
Posso afirmar que o maior sonho da minha mãe era me tornar professora, o que fez com louvor. Perdi meu pai muito cedo, eu tinha 16, e meu irmão 18 anos. Passamos por um período de turbulência, que motivou minha mãe a se empenhar muito mais para que eu não deixasse o magistério, ela falava que para uma mulher, se ela fosse professora, mesmo casada poderia continuar na profissão e ter sua independência, pois ela era do tempo que “mulher casada não trabalhava fora de casa”.
Entretanto, eu gostava de brincar de ser cientista e de desmontar e montar carro, avião, caminhão, muito distante do que ela planejava para meu futuro, mesmo assim, finalizei o magistério e lecionei por 7 anos.
Aprendi com meu pai desde cedo a ser responsável e me empenhar sempre para ter sucesso. Quando eu era criança, lembro que nas manhãs de inverno, em que fazia muito, mas muito frio, de querer faltar na escola para ficar debaixo das cobertas quentinhas. Só que ele não deixava e sempre afirmava, que aquele era nosso trabalho, do mesmo jeito que ele ia para a empresa, nossa obrigação era com a escola e minha mãe afirmava: “estudante tem que estudar” – até hoje uso esse jargão para minha filha e minhas sobrinhas.
Dando continuidade na carreira de magistério, aos 18 anos, optei pela graduação em artes plásticas na FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado, mas ainda não sabia se era isso mesmo, que queria para meu futuro e, por orientação do meu tio, irmão do meu pai, acabei migrando para o Direito, buscando na carreira jurídica a ascensão.
Este curso deveria ser obrigatório, ou pelo menos ter uma parte do conteúdo programático na grade curricular de todas as graduações, pois aprimora a nossa percepção quanto a direitos, deveres e obrigações e, foi nessa jornada, que tive meu primeiro contato com a Segurança do Trabalho, o que mudaria o rumo da minha carreira no futuro.
No direito do trabalho aprendi de forma ampla o tema Segurança do Trabalho, mesmo porque o tema despertou meu interesse de forma inquietante. Advoguei por mais de 10 anos, sendo que nos 5 últimos anos, fiz uma parceria com um colega de faculdade, o qual também possuía uma empresa de assessoria em Medicina e Segurança do Trabalho.
“Novamente a Segurança do Trabalho entrando na minha vida”. E, devido ao meu interesse pela área, este colega começou a instigar minha curiosidade. Como ele tinha feito o curso, na época Inspetor de Segurança afirmou que seria interessante, pois daria uma explanação mais específica nessa área e, com certeza, seria um ganho no trabalho.
No primeiro momento achei estranho. Como faria um curso técnico se eu já era graduada? Me fiz vários questionamentos e busquei informações até que decidi: vou fazer o curso técnico, conhecimento nunca é demais, e principalmente, se posso utilizar no meu trabalho.
No curso, me apaixonei definitivamente pela área. Entretanto, estava em um dilema, deveria largar uma profissão que já tinha recebido frutos do meu empenho para me arriscar numa área apaixonante, mas com outro foco? Foi quando, num trabalho em equipe, tive esta certeza.
" conhecimento nunca é demais, e principalmente, se posso utilizar no meu trabalho "
Só para que vocês entendam: um integrante do grupo de estudo pediu para nos reunirmos na base que atuava como Bombeiro Militar, no aeroporto de Congonhas, assim poderíamos finalizar o trabalho e aproveitar para uma visita técnica sobre prevenção de acidentes e resgate. Após o trabalho, realizamos um percurso dentro do caminhão utilizado para resgate. Fiquei completamente estarrecida, meu coração bateu mais forte, naquele momento era a certeza que minha trajetória profissional teria um rumo completamente diferente. E não teria mais volta.
Comecei a me inteirar sobre o que seria necessário buscar de conhecimento para me engajar na área. E, por um “dedinho do destino”, ou mão de Deus, um professor que trabalhava como Diretor da CPTM - Companhia Paulista de Trens Metropolitanos me convidou para participar do processo seletivo para um MBA focado na área de transportes. Seria a primeira turma de um curso feito em parceria com UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo, AFIP - Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa e Fundacentro, para atender a demanda das empresas de transportes rodoviário, ferroviário e aéreo, devido às dificuldades de se trabalhar em turnos diurno/noturno. Nesse momento, tive meu primeiro contato com o transporte e aqui, posso afirmar, que minha carreira tomaria um curso sem volta.
Queria mais. E a engenharia, nesse momento, era meu foco. O apoio da minha família foi crucial, pois meu marido teria que suprir minha ausência auxiliando nossa filha em situações rotineiras para as mães, como acompanhar atividades escolares, esportivas, sociais e etc. Foi um período muito intenso. Por diversas vezes, eu chegava em casa e todos já estavam dormindo e, como precisava entrar mais cedo na empresa para conseguir sair no horário da faculdade, acabava saindo antes de todos acordarem.
Passei vários finais de semana estudando, fazendo atividades e projetos, por diversas vezes me cobrando pela ausência familiar. Entretanto, cada vez mais tinha certeza que deveria continuar, principalmente quando, em uma conversa, minha filha falou “mãe, você nunca descansa. Está sempre estudando, trabalhando, você é a melhor. Será que um dia vou ser como você?” – Acredite, será ainda melhor.
" Me candidatei à vaga para técnica e participei do processo seletivo, senti que estava no caminho do meu coração. "
Motivada, me empenhei cada vez mais. Trabalhei em vários segmentos até que, em outubro de 2011, efetivamente iniciei no ramo de transportes.
Eu buscava novos desafios, quando vi uma vaga para trabalhar na Rodonaves Transportes e Encomendas. Ainda não conhecia a empresa, fiz uma pesquisa e me agradou por dois motivos: a empresa era muito conceituada e eu poderia utilizar meus conhecimentos neste ramo, a única coisa que achava preocupante era a localização, pois na época a Marginal Tietê alagava e eu teria que percorrê-la quase que em toda a sua extensão. Mesmo assim, não resisti, e como uma boa workaholic, um trânsito não seria empecilho. Me candidatei à vaga para técnica e participei do processo seletivo, senti que estava no caminho do meu coração. Desde o primeiro momento, me encantei pois no TRC as pessoas são diferentes, o clima da empresa era ótimo, desde a recepção dava para sentir o ambiente amistoso. Como estava acostumada com ambientes grandes, bonitos e frios, pessoas engravatadas sem expressão, seria mais fácil para me adaptar. Para minha surpresa, na última fase do processo, fui convidada pelo gerente da época a continuar o processo, porém concorrendo a vaga de Coordenadora de SESMT das filiais de São Paulo. Fiquei lisonjeada e não pude recusar. Passei e iniciei uma nova página na minha carreira.
Continuava meus estudos, e como tinha uma paixão guardada por carros, caminhões e aeronaves, atuando no transporte, a faculdade de engenharia faria ainda mais sentido. Assim nessa empreitada tive também uma outra oportunidade bem bacana. Um professor me convidou para participar de um projeto estudantil no qual a Universidade entraria em uma competição de aerodesing, onde atuei como capitã da equipe Fly Girls, primeira equipe totalmente feminina de aerodesing no mundo.
Nesse meio tempo, a Rodonaves, por ser muito dinâmica, passava por uma reestruturação e novamente me foi dada a chance de crescimento sendo convidada a compor a equipe de Gestão de Pessoas em uma gestão compartilhada. Fui em busca de novidades e conhecimento sobre este novo processo, momento que comecei a participar dos encontros da Diretoria de especialidade de RH do SETCESP em reuniões, palestras, eventos e cada vez mais tinha a certeza de que tinha feito a escolha certa.
Considero a Segurança do Trabalho como uma área importantíssima, onde o respeito pela vida exige minha dedicação. Busco enraizar esse conceito onde passo. Eu prezo pela qualidade de vida num ambiente seguro com melhor produtividade e com isso temos como ganho a redução de custos, além de evitar fastidiosos processos judiciais.
Considero o ramo muito desafiador e envolvente, gosto dessa dinâmica, esse movimento constante nos dá espaço para criar, crescer, aprender e motivar pessoas.
Trabalhar no TRC foi, e é, uma experiência maravilhosa.
Fiquei muito feliz ao ser convidada para compor o time como vice-coordenadora da Diretoria de Especialidade de RH do SETCESP. Após a ligação, cada vez que lembrava, sorria sozinha principalmente, pelo trabalho maravilhoso que fazem para o transporte. Acompanho a crescente evolução da Casa (SETCESP), é um ganho imensurável para mim. Desde meu primeiro contato com o SETCESP, sempre tive vontade de participar mais ativamente e, com certeza, esse momento chegou, me senti realizada.
Sei que o trabalho é árduo, mas acredito na força da mulher. Somos o coração. Conseguimos ser mãe, filha, esposa, amiga, colega de trabalho. Somos simplesmente mulher nesse universo tão “masculino” em que atuamos.
Acredite, com muito esforço, dedicação e boa vontade, podemos derrubar barreiras, vencer obstáculos e chegar onde quisermos.
“A vida tem a cor que você pinta”, diz Mário Bonatti. Não deixe sua carreira na mão dos outros, assuma a responsabilidade e siga em frente.
" Considero o ramo muito desafiador e envolvente, gosto dessa dinâmica, esse movimento constante nos dá espaço para criar, crescer, aprender e motivar pessoas "
* por Ellen Cristina Boaratti Santiago Conecte-se com a Ellen no Linkedin
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