Quando iniciei no transporte, não foi exatamente uma escolha. Foi aos 16 anos e eu nem parei para pensar sobre carreira. A empresa era familiar. Eu simplesmente, saía para o colégio de manhã, e depois seguia diretamente para a transportadora, onde almoçava e já começava as minhas atividades.
Somos em três irmãos e todos seguiram o mesmo ritmo. Meu pai nos cobrava muita responsabilidade, mesmo quando ainda estávamos aprendendo alguma função nova.
Com o passar do tempo fui entendendo sobre como tudo funcionava, gostando, e depois amando. Quando me vi, o transporte virou um vício.
Hoje, colhemos o resultado da nossa dedicação durante todo esse tempo. São mais de 30 anos no transporte.
Conseguimos acompanhar de perto o crescimento da empresa, nossos bons resultados, e principalmente, o quanto somos importantes na geração de emprego e renda para tantas famílias. É gratificante.
Mas se você me perguntar, se em algum momento eu pensei em desistir, eu vou te dizer que sim. Aliás, acho que isso acontece com inúmeros empresários, independentemente do segmento.
Principalmente, quando há crise econômica, e precisamos de muita energia para tentar sobreviver. Só que aí, o amor ao que fazemos fala mais alto, e seguimos lutando por aquilo que acreditamos.
Especialmente para nós, mulheres, o trabalho não costuma ser nada fácil! Precisamos deixar os filhos, a casa e outras coisas aos cuidados de outra pessoa. Isso sempre me traz uma pontinha de insegurança.
Vem à mente as cobranças de ser uma boa mãe. Confesso que por conta dessa preocupação é que tive um único filho. Eu sei que esse tipo de receio, não é só eu sinto. Muitas mulheres que precisam deixar seus filhos para trabalhar também ficam preocupadas.
Mas é preciso diminuir o peso desta insegurança porque independência financeira é outro fator extremamente importante. A realidade da mulher na sociedade e no mercado de trabalho vem mudando, inclusive no setor de transporte.
No início, eu e minha irmã éramos raridade, em presença feminina nos eventos do TRC. Quase sempre as únicas. Atualmente, a participação vem aumentando consideravelmente, ainda que muitas não ocupem cargos de gestão.
Para mudar isso, primeiramente temos que acreditar em nós mesmas e nos candidatarmos nestes cargos, veja bem que, na política, por exemplo, é difícil arrumar candidatas, então como iremos elegê-las se não temos opção?
Temos que entender que estamos em uma luta, para conquistar nosso espaço. Não é fácil, mas é necessário.
Acho que o poder público também deveria estar nesta luta e desenvolver políticas de equidade. Toda empresa, poderia ter um plano de cargos e salários, que qualquer pessoa que ocupasse o cargo, independentemente de ser homem ou mulher, recebesse salários iguais, de acordo com a função ocupada.
Tenho certeza que há mecanismos para se controlar isso hoje em dia, já que as fiscalizações são eletrônicas. A tecnologia tem funcionado muito bem para isso.
Gostaria de dizer a todas as mulheres que façam o que gostam. Podemos ser quem quisermos, como quisermos, quando quisermos.
Acredito que todo sucesso para acontecer tem que ter esforço, então lutem, estudem e se capacitem para buscar a realização do seu desejo, você vai conseguir!
Não permita que ninguém te pare, pois você só atingirá o seu objetivo depois da caminhada. Ainda que seja longa, não duvide, você chegará.
* Por Juliana Martins - Diretora na Repelub
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