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Nedisandra Magalhaes – “O sonho de hoje é a realidade do amanhã”


Sempre amei a liberdade. E o transporte de cargas me possibilitou isso. Mesmo sendo uma liberdade condicionada, me permite não me fixar em um espaço. A vontade de ir para a estrada surgiu por volta dos meus 16 anos, mas na época achava impossível alguém me dar oportunidade.


Hoje estou completando 22 anos de experiência no setor de transporte como motorista. Alguns dizem que “vontade é coisa que dá e passa”. Eu não a deixei passar.


Aos 18 anos fiz minha CNH para moto e ônibus, categoria A e D. Logo em seguida, busquei a categoria “E” para dirigir carretas e fui de encontro ao meu sonho. Não foi fácil, mas deu certo.


Cada viagem concluída com sucesso é um novo sentimento de realização.



O transporte que realizo atualmente é o de carga indivisível. Se toda a carga precisa de um cuidado, para este tipo, é necessário duas vezes mais. Conduzo um veículo articulado com peso centralizado e fixado em um ponto do semirreboque, que leva de duas a três máquinas. Nada pode dar errado na direção.


Mas isso está longe de ser um problema para a operação. Pensando nas dificuldades do transporte de cargas, elas são maiores em relação à segurança e à falta de infraestrutura nas rodovias.


A gente ouve histórias de motoristas de caminhão que são parados por meliantes, têm a carga roubada e às vezes, são levados com o caminhão em sequestro. São histórias que até dão um frio na espinha.


Agora, um enorme desafio para o motorista e uma grande vergonha nacional, são as situações de algumas estradas. Eu passo em rodovias pedagiadas que são horríveis.


Por exemplo, a BR 381 que liga São Paulo a Belo Horizonte, tem trechos péssimos. Também a que liga Belo Horizonte a Ipatinga, é outra, faz anos que está em obras que nunca acabam.



Para fechar, na BR 116 na altura de São Miguel dos Campos (AL), caiu a pista e os caminhões estão fazendo retorno por dentro do canavial. Meu caminhão atolou lá por esses dias, e deu um trabalho imenso para conseguir tirar do barro.


Na estrada, os meios de comunicação facilitaram o contato com a família, hoje as ligações e vídeos chamadas, são as formas mais fáceis para matar a saudade de casa.


Quanto à conciliação do profissional com pessoal, não é nada fácil, pois o trabalho ocupa a maior parte do tempo da gente. É o cuidado com a casa, cuidado com a nossa saúde, com filhos, entre outras mil coisas, que a gente tem para fazer. Mesmo com tudo isso, eu continuo amando o que faço. Um dia em cada lugar e me realizo.


Eu me considero realizada profissionalmente, mas isso não me isenta de aprender e buscar todos os dias novos alicerces para poder sanar intempéries que possam aparecer futuramente.


Digo sempre, quero mais, busco mais. Foi movida por esse propósito que me graduei e pós-graduei em logística. O estudo me deu um embasamento teórico, e no caminhão, eu consegui unir a teoria à prática.


Já estive, durante algum tempo, trabalhando na parte administrativa de uma transportadora e esta experiência me permitiu enxergar os dois lados da operação.


E, assim como eu, vejo outras mulheres buscando seu espaço neste setor, e conseguindo um lugar ao sol. Com isso, sinto que é extremamente necessário o entendimento entre profissionais.


Não há mais lugar para o machismo. O sentimento de cooperação é o que tem que existir em cada um.

Para chegamos até aqui com certeza o movimento feminista foi importante. Aliás, ele continua sendo importante, da época da revolução industrial até os dias de hoje.


Independente do gênero, quem sonha em entrar no setor de transporte de carga deve perseverar. Nunca desista de seus sonhos, por mais que não pareça que vai conseguir alcançá-los. Esperança é tudo. Não esqueça, o sonho de hoje é a realidade do amanhã!


Por Nedisandra Magalhaes – Motorista Carreteira na Stumpf



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