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Bruna Dias Xavier: “A liberdade de poder escolher sem julgamentos”

Atualizado: 17 de fev. de 2023

Desde a minha formação sempre atuei como advogada trabalhista, e, por acaso, acabei me especializando na área de transporte rodoviário de cargas. Isso porque, eu comecei a trabalhar no jurídico interno de uma transportadora, onde tive a oportunidade de aprender as particularidades do setor.

Eu foquei em uma área que tem regulação muito específica, me aprofundei em entender a jornada de trabalho do motorista profissional e as relações contratuais dos motoristas profissionais não empregados.

A parte mais desafiadora do meu trabalho é que nem sempre quem tem o poder de decisão conhece o dia a dia de uma transportadora. Alguns julgadores não têm a compreensão dos processos e dinâmica que envolvem a nossa atividade e, naturalmente, isso exige uma atuação mais incisiva do advogado para demonstrar as especificidades do setor.

Ainda falando de transporte, apesar de hoje ainda ser um setor bastante masculino, desde o início, as minhas referências de liderança no transporte rodoviário de cargas foram mulheres.

A primeira empresa transportadora que trabalhei era presidida, e ainda é, por duas mulheres jovens e desbravadoras. Atualmente, trabalho na Tora Transportes, cuja CEO é uma mulher extremamente competente e inspiradora. Você sente que pode chegar lá, sem qualquer tipo de limitação pelo seu gênero.

Daí a importância de termos mulheres em cargos de liderança e em funções que culturalmente são destinadas para homens. Por exemplo, as motoristas, são verdadeiras inspirações para outras mulheres que buscam espaço no mercado de trabalho, independentemente da posição que pretendem alcançar.

Aliás, nunca é demais dizer que as pessoas não deveriam ser medidas pelo seu gênero, e sim, por sua competência, pela sua habilidade e capacidade de desempenhar a função que escolher assumir.

Nunca me senti constrangida em minha carreira por ser mulher, até pelas referências que sempre me guiaram, mas confesso que já me senti sem espaço de fala. Por vezes, a sensação é de que você está condicionada a ter que provar mais a sua capacidade, para ser ouvida e validada.

Não se pode perder de vista que a ascensão profissional da mulher é muito mais difícil se comparada à carreira do homem. Acredito que, isso está mudando aos poucos, e que o protagonismo da mulher no mercado de trabalho, notadamente em transportadoras, exige s busca constante por maior qualificação, e muitas vezes, renúncia aos encargos da vida pessoal.

Por opção, ainda não tenho filhos e sei que a decisão de me tornar mãe impactará sobremaneira na minha vida e na minha carreira. Aliás, a expansão da mulher no mercado de trabalho tem trazido muito à tona essa questão de conciliar carreira com os papeis de mãe e esposa.

É bem verdade que a mulher pode desempenhar vários papéis, ou não. Precisamos normalizar e ver com bons olhos, aquela mulher que optou por cuidar de casa e dos filhos e não trabalhar fora, ou aquela que decidiu investir na carreira e não ser mãe, por exemplo. A mulher pode ser o que quiser.

Acredito que a cobrança de conciliar os papéis historicamente impostos às mulheres em detrimento da profissão é o que mais nos oprime. E as críticas e invalidações, muitas vezes, vêm das próprias mulheres.

E não podemos nos culpar, já que essa cultura de assumir “papéis femininos” é uma construção antropológica, e cabe a nós, mulheres, nos unirmos para descontruir qualquer imposição que não esteja alinhada com a nossa escolha de vida.

Faz parte da escolha renunciar às outras opções. Quero ter a liberdade de poder escolher sem julgamentos.

Concluo dizendo que é necessário incentivar o protagonismo da mulher em qualquer área. O sentimento de sororidade é o que nos fortalecerá e nos levará a conquistar o nosso espaço, tanto no transporte quanto em outros setores. Por isso, todos os movimentos que geram um elo entre nós mulheres são importantes e merecem destaque.


Por Bruna Santiago Dias Xavier, advogada na Tora Transportes

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