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Cátia Moraes: “Se tem muitos que te diminuem, existem ainda mais aqueles que te apoiam”

Acervo pessoal

Eu já tinha toda uma história no setor de transporte. Minha entrada na transportadora só reforçou este vínculo. Sou casada com caminhoneiro. Meu filho, sogro, irmão, primo são caminhoneiros e tem outros mais na família.

Inclusive, na GM Log, em que trabalho hoje, entrei através do meu irmão que carregava para a transportadora.  Antes, atendia em uma fornecedora de peças de uma montadora e, também por um período cheguei a agenciar umas cargas para o primo que era transportador.

Aqui, sou assistente de frota e cuido dos documentos dos nossos motoristas e das cargas. Também recebo todas as notas para fazer lançamentos e organizo os comprovantes de pagamentos.

Conheci meu marido quando ele já era motorista de caminhão. Faz 33 anos que somos casados. Sei bem das dificuldades como esposa. Quando o companheiro sai, bate aquela tristeza e quando está perto de voltar, dá aquela ansiedade.

No início, foi complicado. Quando éramos recém-casados, queria que ele parasse de viajar e encontrasse outra profissão, mas ele não conseguiu. Foi criado dentro de um caminhão e a vida dele sempre foi assim. Não seria justo, então tirei essa ideia da cabeça.

Já viajei muito com ele. Conheci Recife, Fortaleza, Rio de Janeiro, Natal… deu para ver esses lugares bonitos, mas também vi muita coisa triste, pobreza, desamparo e escassez pelo interior do país.

O maior desconforto para a mulher na estrada é que você quer chegar em uma parada e conseguir tomar um banho, usar banheiro, coisas deste tipo. Só que nem todos os locais têm banheiros bem cuidados.

E olha que, por ele rodar muito, ele sempre estacionava comigo nos melhores lugares. Mas acaba acontecendo de ter que parar em alguns mais precários.

Teve uma vez que a gente teve que passar o Ano Novo na estrada. A gente carregou para Minas e não conseguimos voltar. Minha família estava com tudo pronto para nos encontrarmos na virada de ano, mas não deu.

Ficamos lá num posto. Tinha outros colegas parados, fomos para um supermercado, compramos as coisas da nossa ceia e fizemos a festa lá. Não posso dizer que foi ruim. Faz parte da vida que a gente levava. E eu gostava.

Embora no começo eu não quisesse, por conta do perigo, eu tenho orgulho também do meu filho ser caminhoneiro e seguir os passos do pai. Sou muito feliz por eles fazerem o que gostam.

Estando aqui na transportadora, quando algum colega motorista chega e conta alguma situação, consigo compreender porque sei como é difícil para eles na estrada.


Acervo pessoal

A parte de que gosto no meu serviço é a comunicação que tenho com meus colegas. Qualquer problema que eles têm para os abastecimentos, eles me ligam aqui e eu faço o possível para resolver.

E a gente acaba sabendo, às vezes, até um pouquinho da vida de cada um. Eles gostam de sentar, entrar, tomar um café, conversar.

Sem dúvida, para eles, o mais difícil da profissão é quando eles saem para viajar e demoram para voltar. A saudade da família é a pior parte.

Quando fico sabendo de um caminhão que sofreu um acidente, meu coração já fica apertado, mesmo crendo que Deus está sempre no controle. Rezo todos os dias por meu filho, esposo e os motoristas que eu conheço.

Agora temos uma colega nova aqui na empresa que é motorista. Ela ainda não está fazendo as viagens longas, porém está adquirindo experiência para isso e eu vejo um esforço enorme dela e sei que dará certo. A gente dá muita força, porque esse é um sonho para ela.


Acervo pessoal

E eu penso assim, se a pessoa quer, não deve desistir. Ninguém deve desistir dos seus sonhos. Não podemos deixar se abater pelos preconceitos, porque se tem muitos que te diminuem, existem ainda mais aqueles que te apoiam.

Hoje, o número de mulheres no transporte está bem maior e tem de aumentar ainda mais.

Vale a pena continuar, sem olhar para trás. Se tem coisas que não deram certo, ficam de aprendizado.


Por Cátia Moraes, assistente de frota da GM Log

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