top of page

Cláudia Moura: “A nossa história está nas nossas mãos”

Eu comecei no transporte ainda muito jovem, com 19 anos. Passava sempre em frente à empresa Transportes Toniato e comecei a desejar estar ali. Tinha uma admiração por aquele movimento todo, visto do lado de fora.

Mandei meu currículo e consegui uma oportunidade. Comecei como auxiliar de contabilidade (tinha concluído, a pouco, meu curso técnico).

Acervo pessoal

Ao longo dos anos, pude acompanhar meu processo de desenvolvimento junto com o da empresa. Na época, nós éramos duzentas pessoas, hoje estamos com mais de 2 mil colaboradores.

Eu fico pensando o quanto de mim tem no Grupo Toniato, e do Grupo Toniato na minha história de vida. Ver a evolução da empresa e de todos o que passaram por aqui me dá uma enorme satisfação.

Apesar de ter iniciado no transporte há 33 anos, eu tive muita felicidade de chegar exatamente onde estou. Aqui, não tive dificuldades por ser uma mulher. Todas as oportunidades me foram dadas. As portas se abriram e eu, com trabalho e muito estudo, fui mantendo-as abertas.

Fui conquistando meu espaço de forma natural, como tem que ser, mesmo em um ambiente masculinizado. Ainda é, e era muito mais.

A gente vem quebrando barreiras levando sensibilidade aos processos. Há uma cultura enraizada, na cabeça de alguns que não dá para ter mulher trabalhando numa empilhadeira, assumindo a direção de caminhão ou fazendo parte de um processo de manutenção mecânica.

Com nossa sensibilidade vamos quebrar isso. Estou muito feliz em participar do Vez & Voz e do movimento a Voz Delas [da Mercedes-Benz], neste objetivo de trazer para o operacional do setor, a quantidade de mulheres que já temos no administrativo.

Eu nunca pensei em desistir. Brincamos por aqui que depois que entra o diesel na veia, não tem mais volta, você não consegue se imaginar em outro lugar.

A vida não é um “País da Alice”, a gente vai e vive momentos muito bacanas, e outros um tanto desafiadores.

Viver a experiência da maternidade trabalhando aqui, me faz agir de uma forma muito afetuosa com as mães. A diferença dessa liderança consiste em elaborar as ações a partir das nossas experiências reais, que vai além da literatura, considerando ainda que cada mulher que se apresenta à mim é um ser único e merece respeito no seu processo de individualização.

Nas duas gestações eu tive um apoio muito grande dos meus pais. Na segunda, estava no meio do meu curso de graduação, inclusive.

Acervo pessoal

E eu acredito que para dar conta disso tudo: família, trabalho e faculdade, é fundamental ter uma rede de apoio. Sem isso eu não conseguiria fazer nem 50% do que eu faço.

E quem faz parte dessa rede: minha mãe, meu marido, minhas filhas, minha governança, minha equipe, a moça da farmácia que me manda o remédio aqui quando eu preciso, ... o rapaz do supermercado que me atende, o senhor do restaurante que manda minha alimentação do jeito que gosto no horário de almoço, enfim... essa rede é extensa e excepcional.

Construí essa rede contando com as pessoas que me cercam. Óbvio, que nem tudo sai exatamente perfeito, porque eu não sou perfeita e nem estou aqui para aperfeiçoar ninguém, mas sou grata por tê-los me proporcionando realizar o que faço.

Outro ponto fundamental é gostar do meu trabalho, assim, nada se torna pesado. Tem o desgaste, mas quando você chega em casa, senta, tira o sapato surge uma alegria gigante dentro do coração. Os problemas ficam mais tranquilos de serem tratados e os momentos de descanso, sempre são de descanso, porque eu não estou carregando nenhum peso extra.

Creio que seja importante a gente ressignificar alguns lugares. Eu preciso saber onde eu quero estar, criar um movimento para isso, e confiar que eu sou capaz de fazer. Buscando e criando meios para conseguir chegar.

Também valorizar o que fazemos, e não acreditar que somos menores. Não é só buscar um lugar, não porque eu acho que aquele lugar me cabe, e sim, porque eu tenho certeza que é aquele lugar que eu quero.

Já passei por situações de ter um assunto em pauta na reunião e alguém me pedir um café. Do tipo, ”enquanto discutimos aqui o que é importante, você vai lá e pega o café”. No começo você pode se embaraçar, como aconteceu comigo, mas é essencial entender aquilo que tem o significado para você, e não se revoltar contra o outro, que experimentou te calar. Porque ele está falando da história dele e não da sua, e nem da minha. A nossa história está nas nossas mãos.

Não se revolte contra o outro, mas encontre a melhor forma para não te calarem: se ele entendeu que a pessoa do café era eu, vou mostrar para ele, que eu busco o meu café, e ele busca o café dele, ok! – Vamos juntos buscar o café?

De novo repito, sou eu que tenho que me dar essa voz, não me revoltando contra o outro, mas ressignificando a minha história.

A pandemia reforçou que é preciso ter uma saúde mental para aguentar todo o processo. Eu ouvi uma comparação que demonstra que foi pior do que a guerra. Na guerra, se você tem a carne e eu legumes, juntas fazemos uma sopa. Na pandemia eu fiquei com os meus legumes e você com a sua carne.

Este momento serviu para eu repensar alguns planos, e decidi que eu queria cuidar melhor das pessoas. Todo esse processo fez a gente olhar para o outro de uma forma genuína. Voltei para a faculdade para estudar psicologia e entregar o meu melhor para quem trabalha comigo. O afastamento que a pandemia trouxe me fez querer me aproximar das pessoas. Nós juntas podemos muito mais.

Acervo pessoal

O transporte me dá chance de lidar com pessoas de diferentes culturas, com uma multiplicidade, e é uma oportunidade de me aproximar do outro de uma forma muito simples e agregar algo de bom na vida dele e permitir que ele também venha somar na minha vida.

E essa a ideia que inclusive eu levo desse movimento. Aqui, nós não estamos em uma competição com os homens. Não tem concorrência. Tem cooperação. Sigo acreditando que o lugar que me cabe, não é aquele lá no passado que me ensinaram culturalmente, e sim, o lugar que desejo para mim agora.

Se dê você essa “Vez”, e não limite as suas oportunidades, dando “Voz” a si mesma.

Por Cláudia Moura, Diretora Administrativa e Financeira no Grupo Toniato

226 visualizações0 comentário
bottom of page