Comecei na logística pelo setor de armazenagem. Tive a sorte no início da minha carreira de ter encontrado pessoas que acreditaram em mim.
Éramos duas estagiárias trabalhando na expedição com sessenta homens no operacional. Na época, meu chefe imediato falou assim — é a primeira vez que eu estou colocando mulher nesta área, já me disseram que não era para fazer isso, mas estou apostando em vocês.
Deu certo a aposta, foi uma experiência excelente, porque tanto eu quanto minha colega nunca fomos desrespeitadas naquele ambiente.
Na expedição, era responsável pela separação das notas fiscais e romaneios. Depois fui efetivada e minha ascensão veio de forma bem natural e foi decisiva para minha carreira. Por estar ali, optei em fazer minha pós-graduação em Logística e assim, conheci todo o processo do setor de transporte.
Uma coisa que vale dizer, é que para as pessoas começarem a prestar atenção em você, é preciso primeiro, provar que você é boa mesmo, principalmente quando se é mulher. Contudo, esses desafios são superados com a vivência profissional.
Anos mais tarde, quando eu engravidei eu decidi buscar a carreira de docente, que também era um sonho. Por sorte, encontrei um professor que tive na graduação de Logística, e ele estava com muitas aulas, sabendo do meu interesse, perguntou se eu não gostaria de assumir algumas aulas dele. Na época, estava começando o mestrado em Engenharia de Produção. Eu não pensei duas vezes, aceitei.
Fiquei cinco anos em uma instituição de ensino e depois fui para a FATEC onde tive a oportunidade de implantar e coordenar o curso de Logística. Atualmente, lá até existem professoras mulheres nas áreas de matérias básicas, línguas e matemática. Em Especialização em Logística, somente eu.
Já alunas, nós temos bastante, isso é uma coisa muito interessante, porque quando o curso começou em 2018, era predominantemente masculino, e hoje é meio a meio. Outra coisa é que ao longo dos três anos do curso, o nível de desistência acaba sendo maior entre os homens.
As mulheres são mais persistentes. Elas têm o desejo de trabalhar na área, e as que já trabalham querem novos desafios profissionais. Outras vêm por indicação de quem vê o setor como um lugar de oportunidades.
Em termos de logística, nosso grande desafio é conseguir fazer aquela entrega da última milha no tempo hábil que é desejado pelo cliente. Outro ponto é incentivar as empresas na valorização do ser humano.
Não são só processos, processos, processos... quando valorizamos os profissionais, temos um aumento de produtividade incrível. As empresas devem ver as habilidades que cada um tem e valorizá-las. Pensando na mulher, especificamente, e no tempo que ela, caso seja mãe tirará de licença, vale lembrar que não será isso que fará dela uma profissional melhor ou pior. O filho na verdade é mais um motivador para que a gente consiga atingir nossos objetivos.
Por isso, acho essenciais os movimentos de apoio à mulher, porque muitas delas acabam desistindo dos seus sonhos quando encontram dificuldades como a questão salarial ou de repente, problemas de discriminação de gênero.
A gente precisa de um apoio, de alguém que esteja lá por trás falando: você consegue. Vamos, você vai dar conta. Coisas do tipo do que faz aqui o Vez & Voz.
Muitas vezes, a gente está se equilibrando com os nossos diversos compromissos — filhos, marido, casa, estudo e, acontece de ter que tirar o pé do acelerador para poder dar mais atenção para uma determinada situação da vida. Não há nenhum problema nisso, depois a gente volta e acelera de novo.
Às vezes, as coisas não acontecem exatamente no tempo que a gente quer, mas elas acontecem. Se a gente persistir, e fizer tudo com amor, no fim tudo dará certo. Acredite.
Olha eu vou compartilhar aqui uma parte tensa da minha história. Eu estava concluindo meu doutorado e meu pai teve câncer. Faleceu um mês e meio depois de descobrir o diagnóstico, e minha mãe que já estava com início de demência, teve um agravamento da doença após falecimento do meu pai.
Somados isso tudo, eu trabalhando com dois filhos e marido, quase desisti do meu doutorado. Falei, eu vou parar. Aí eu pensei melhor e disse não, não vou não, faz uma coisa de cada vez.
Então, eu dei foco para o cuidado com meu pai, aí depois eu voltei-me a ajudar minha mãe, aí e por fim, me dediquei novamente ao doutorado e fui acertando as coisas.
No início da minha carreira profissional eu contei muito com a ajuda minha mãe e com a minha sogra. Duas mulheres muito fortes. Agora, infelizmente não tenho elas para contar. Em todo o tempo, também tive um grande suporte do meu marido.
Falo isso, porque é importante não termos vergonha de pedir ajuda para quem a gente confia. Só assim, unidos com outras pessoas é que conseguimos superar os desafios que a vida impõe para a gente.
Uma última coisa, pensando nas mulheres motoristas: é normal sentir a falta da família. Sei que muitas se culpam por estar longe, mas pensem no que é necessário para alcançar os seus sonhos e poder também proporcionar o melhor para sua família. Não fique com o sentimento de culpa, você está fazendo sua parte.
Mais à frente veremos os nossos filhos querendo alcançar os sonhos deles e a gente precisa ser o exemplo para eles, mostrando que a gente não desistiu dos nossos. E assim vai.
Por Daniela Marchini, professora de Logística e Gestão da Cadeia de Suplementos na FATEC Americana
Que linda históriaaaaa, persistência , resiliência e muita garra! Parabéns Daniela😍