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Elizabete Loz: Mas que graça tem a vida se não pudermos nos reinventar?

Eu nasci e vivi até o início da minha adolescência em Joinville/SC. Desde criança eu sempre fui agitada, aventureira e curiosa. Tinha o espírito desbravador. Queria saber como tudo se conectava, vivia explorando ou inventando coisas novas e gostava de estar sempre no comando.

Com esse intuito de me aventurar, na adolescência, fui morar em Caxias do Sul/ RS, para realizar minha primeira formação acadêmica em Moda e Estilo. Foi lá, ainda sem saber, que cerca de 8 anos mais tarde eu começaria minha carreira no segmento logístico.

Entretanto, antes de eu seguir neste caminho, acabei indo morar em São Paulo para realizar pós-graduação em Styling, nessa época eu atuava com produção de moda. Logo após finalizar a pós-graduação, acabei decidindo voltar para Caxias do Sul e montei uma confecção.

Alguns anos se passaram e quando eu estava no final da gravidez do meu primeiro filho, sofri um grave acidente, no qual, inclusive, causou o falecimento do meu sogro e eu tive fratura no fêmur. Nesse momento, resolvi dar um intervalo profissional e nunca mais voltei a atuar na área de moda. A verdade é que eu já não sentia mais vontade de atuar profissionalmente nessa área.

É muito engraçado, sempre mergulho fundo no que estou realizando, mas quando eu decido que está na hora de mudar assim o faço. Sem lamentações ou dor.

Após esse acidente, eu tirei um tempo, assumindo unicamente um dos papéis que eu considero dos mais difíceis e importantes na vida de uma mulher, que é o de ser mãe.

Aliás, fazendo uma pausa na minha história, acho que nós mulheres assumimos muitas responsabilidades, temos muitos papéis diferentes ao longo do dia, independente do segmento de atuação profissional. Assim, conciliar a agenda pessoal e profissional às vezes pode ser uma grande bagunça e é extremamente exaustivo.

Bom, voltando a minha trajetória profissional, esse período ‘sabático’ durou pouco. Sem que eu pudesse perceber eu já estava assumindo um desafio de estruturação dentro da Prestex, empresa fundada em 2003, pelo meu então marido, Rodrigo Lizot.

Porém, essa decisão não foi fácil para mim. Achava improvável que aquele nível de convivência poderia dar certo, mas sabia que por um curto período eu teria condições de ajudá-lo efetivamente, mas estava errada em relação ao tempo.

Engraçado, nunca me imaginei trabalhando com logística, quando pequena eu gostaria de ser aeromoça, queria fazer treinamento na selva e viajar o mundo inteiro. Ainda tenho esses desejos de aventura e amo viajar, e trabalhar com logística emergencial traz um pouco desse universo.

É um trabalho muito dinâmico, a logística também é uma prestação de serviço, assim como ser aeromoça ou comissária de bordo. Nossas cargas em sua maioria são transportadas por aviões, enfim tem suas similaridades, entretanto são universos bem distintos, embora seja divertido pensar nessas correlações.

No início, comecei fazendo um pouquinho de tudo, algo muito normal em empresas familiares que estão na fase de crescimento, só que o principal desafio assumido por mim era estruturar um departamento de marketing. Passei alguns anos me especializando e colocando tudo que aprendia em prática, ou seja, testando, aprendendo e ajustando.

Após 7 anos estruturando os processos de marketing, realizando planejamentos e coordenando as estratégias, eu sentia que estava precisando de novos desafios. Gosto muito de realizar estruturações e entregar esses processos para alguém gerenciar como rotina, não tenho muito apego ao que eu crio, sou muito prática. Acho a rotina muito importante, é o que faz eu ter foco, mas necessito de novidades para não cair no automático. Inovar é preciso sempre.

Desta maneira, assumi a estruturação de um projeto comercial e acabei, na verdade, desenvolvendo uma área de Projetos e Processos. Alguns anos depois, já no papel de sócia da Prestex, fui desafiada a estruturar o processo de Governança e o Programa de Compliance na empresa.

O Rodrigo, eu e o nosso sócio Marcelo Zeferino, tínhamos como objetivo principal blindar a cultura da Prestex no processo de crescimento e expansão. Sempre nos orgulhamos do nosso “jeitão de ser”, gostamos muito do ambiente corporativo que criamos e de como nosso time atua.

Após 12 anos de empresa, com dois filhos, muitos cursos de educação executiva, consegui, junto com nosso time, fazer a empresa crescer. Tornamos a Prestex líder em seu segmento de atuação e principalmente, nunca deixamos de ter os clientes e as pessoas no centro do nosso negócio.

Atualmente, atuo como Chief Compliance Officer (CCO), sinto que estou realizada e sei que esse não é um estado fixo. Eu sonho em ver a Prestex crescendo e atuando em outros continentes. Confio muito no nível de serviço e atendimento que prestamos.

No dia a dia, como empresa de logística, enfrentamos alguns desafios de rotina. Porém, para mim a grande questão está associada a resposta de como gerar mais valor ao cliente. Acredito que entender a fundo as necessidades e desejos do nosso público cria uma conexão genuína com ele. Parece ser simples, mas temos que ter um olhar de melhoria contínua para que todos os processos internos estejam alinhados nessa direção.

Quanto aos fatores externos, esses não podemos controlar, mas precisamos estar atentos a eles e nos movimentarmos rapidamente de acordo com novos cenários. Tudo muda o tempo todo, sempre foi assim, mas atualmente existem novas peças no tabuleiro para reaprendermos a jogar.

A sociedade está cobrando do mundo corporativo um papel mais social efetivamente, as novas tecnologias estão mudando a forma com que criamos e fazemos negócios. Conectar tudo isso não é uma tarefa fácil.

Particularmente, gosto desse movimento constante. Como já disse, desde pequena nunca consegui ficar parada, meu mundo nunca foi linear e de fácil compreensão, então o momento que estamos vivendo não me assusta, pelo contrário, me deixa motivada.

Não podemos ser frágeis, precisamos ser resilientes e ágeis, ao mesmo tempo temos que controlar nossa ansiedade para não surtarmos. É uma loucura, mas eu acho divertido e desafiador.

Nesse cenário, nos últimos anos, eu tenho visto muitas mudanças acontecendo. O mundo corporativo tem discutido temas extremamente relevantes para a sociedade como equidade de gênero, equiparação salarial, diversidade e sustentabilidade.

Essas pautas estavam muito distantes das pequenas e médias empresas, até cerca de 5 anos atrás, mas hoje já são realidade. Inclusive muitas ações vêm sendo implementadas e já fazem parte da rotina de muitas organizações, como por exemplo, trabalho remoto, híbrido ou outros arranjos flexíveis, novas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento por meio de plataformas e-learnings corporativas, benefícios que focam no equilíbrio entre vida pessoal e trabalho.

Ainda não temos condições de prever em quanto tempo, ou até mesmo, se estabilizaremos essas mudanças, mas percebo que já estamos vivendo esse processo.

Sou muito otimista, mas não vivo como uma torcedora, prefiro ser agente de mudança e apoiar nessas construções. Felizmente, na Prestex, vivemos em um ambiente de igualdade de gênero, inclusive nossas políticas refletem o que em nossa cultura já praticamos há muito tempo. E estamos avançando em algumas agendas para promovermos a equidade de gênero.

O segmento logístico historicamente é um ambiente masculino, mas na Prestex já somos maioria e muito participativas.

Percebo que as mulheres encontram dificuldades em ocupar espaços de poder na sociedade, seja no campo da política, por exemplo, ou no universo corporativo tradicional. Mulheres têm mais dificuldades em serem eleitas, ouvidas e até mesmo serem promovidas. Aos poucos estamos mudando o fluxo da história, quebrando algumas crenças e vieses inconscientes.

É muito importante a mulher ter voz ativa na tomada de decisão pública e privada, e não podemos ter nossas organizações à margem do olhar feminino.

Acredito que nós mulheres somos em parte responsáveis pela mudança que queremos, por mais desafiador que seja não podemos terceirizar esse compromisso.

Atualmente, sei que aquela criança que fui um dia ainda vive em mim. Ela ainda é agitada, curiosa e aventureira. Hoje ela procura derrubar paradigmas e enfrentar desafios de forma mais criativa, encontrando soluções de forma pouco convencional. Nunca tenho certeza de qual vai ser a próxima coisa que ela vai inventar, as vezes até eu me surpreendo com ela. Mas que graça tem a vida se não pudermos nos reinventar?

Desejo que cada vez mais tenhamos mulheres ousadas desafiando a história e reescrevendo uma nova história, sem esquecer da criança que já foram um dia.


Por Elizabete Loz, CCO - Chief Compliance Officer na Prestex


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