Minha relação com o setor de transporte começou com pequenos ‘flertes’ ao longo da minha história. Quando pequena, lembro de participar de momentos em família no pátio da transportadora do meu tio. Gostava de visitá-lo para ver os caminhões.
Aos 16 anos, consegui meu primeiro emprego como recepcionista em um grupo, que possuía em seu quadro de fornecedores uma transportadora.
Então, em paralelo aos atendimentos da recepção, eu era responsável pelo lançamento de informações como a média de combustível dos veículos, relatórios de despesas dos motoristas e emissão de CT-e.
Após onze anos trabalhando neste grupo, eu aceitei o convite para trabalhar no Sindetrap [Sindicato Empresas Transportes Cargas Piracicaba], uma entidade patronal do TRC.
As demandas eram diferentes da rotina de antes. Foi um desafio lidar com pessoas, assuntos trabalhistas, políticos e um ambiente predominantemente masculino.
Só que quanto mais fui aprendendo sobre o transporte, mais percebi a importância das entidades para o setor se manter produtivo e operante.
Em um breve período de tempo, por gostar de fotografia e ter estudado por hobby, acabei sendo incentivada por um professor a trabalhar com retratos.
Como fotógrafa, sem conseguir muito bem conciliar as duas atividades, eu me questionei sobre o que faria, e optei pelo que mais me envolvia profissionalmente. Fotografia é um gosto pessoal, mas não me sentia totalmente conectada nesta profissão.
A verdade é que gosto das demandas organizacionais, de processos, gerenciamento de informações, gestão estratégica e de pessoas.
Acredito que o TRC tenha ‘por acaso’ me escolhido, deste dia em diante, permaneço trabalhando no setor por escolha própria.
Fico feliz quando soluciono uma situação de alguém que busca uma orientação.
Os desafios são muitos, há uma dificuldade na retenção da mão de obra, o custo da operação é muito grande, fora isso, a legislação muda e é preciso se adequar.
Sempre me certifico de fazer tudo que está ao alcance da entidade, para que o empresário ou colaborador em questão, encontre o direcionamento correto.
Eu, trabalhando em uma entidade patronal, sei que tenho a responsabilidade de agir direcionando todos para as pautas e ações atuais, sejam elas, demandas econômicas, sociais ou ambientais.
Então, por esse motivo, incentivo a conscientização para que mulheres sejam cada vez mais participativas, porque temos a capacidade de gerenciar, liderar e resolver problemas.
É necessário que iniciativas como o Vez & Voz continuem amplificando o tema, para que as organizações tomem decisões visando uma maior equidade.
Vejo que os movimentos coletivos com esse objetivo estão transformando o pensamento, as empresas mudaram o conceito “do que podemos fazer” para “o que estamos dispostos a fazer”.
Acredito que já evoluímos muito a respeito, mas ainda temos um grande caminho para percorrer. O setor de transporte ainda é predominantemente masculino, mas já foi muito mais.
As organizações que almejam a diversidade, inclusão e a equidade, precisam estar dispostas a dedicar recursos a esse propósito. O reflexo dessa mudança se inicia na alta gestão.
Há alguns anos, era impensável uma mulher ocupar cargos como por exemplo, o de motorista, hoje já notamos um movimento no setor para incentivar e capacitar aquelas que tenham vontade e necessidade de executar esta função.
A mudança de cultura é um processo que pode ser demorado, mas trará resultado conforme for acontecendo.
Todos somos capazes de ocupar funções por competências e não por classificação de gênero ou estereótipo.
A pauta de inclusão deve fazer parte da administração das organizações, visando a construção de um mercado de trabalho mais justo e com menos desigualdade.
É importante destacar que a equidade não é apenas assegurar os direitos e apoiar movimentos sociais, e sim um processo de mudança cultural. É também viabilizar que as pessoas tenham o que precisam. E, as mulheres precisam agora de oportunidades iguais.
Afinal, todas nós somos capazes de realizar com sucesso qualquer atividade, basta ter a qualificação e competência necessária e, principalmente, a oportunidade.
Como sociedade, estamos em constante processo de transformação e as mudanças precisam ser absorvidas no mercado de trabalho.
A definição pela remuneração de cada cargo deve ocorrer independente do gênero. O mesmo deve se aplicar aos critérios de “promoção” dentro das organizações, onde o gênero do colaborador não pode pesar na decisão.
Toda troca de opiniões é uma oportunidade de aprendizado, e nós mulheres temos muito a compartilhar e colaborar também.
Acredito na força feminina de criar, gerar e conquistar direitos e espaços.
Eu não estou falando daquele ativismo feminista, que impõe opiniões como uma única verdade, pois precisamos saber respeitar o tempo e escolha de cada uma.
Penso que sempre podemos incentivar umas às outras e buscarmos ser cada vez melhores. E isso, pode ocorrer através do exemplo que pode servir como inspiração.
Com certeza, podemos passar por essas mudanças sem desmerecer ou agir de maneira excludente com outro gênero.
É necessário que o mundo corporativo saiba que cada ser tem sua particularidade, mas que todos podem fazer a diferença e que as mulheres, quando expressam a necessidade de maior igualdade, tem a intenção de chegar “para somar”, agregando a um setor que já funciona e pode ser ainda melhor com a participação delas.
Espero que cada uma de nós possa colaborar com o fortalecimento da participação de mulheres no setor do transporte, pois empresas com mais diversidade são mais produtivas, e nós mulheres temos um jeito único de realizar tarefas e contribuir.
Aproveito para convidá-las a participarem das entidades sindicais da sua região, fortalecendo a representatividade do setor e das mulheres dentro do setor.
Por Jéssica Bertanha, gerente administrativa do Sindetrap.
Siga a Jéssica no Instagram: @jessicabertanha
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