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Mudanças na NR-1 e a saúde mental das mulheres

No mundo todo, vivemos uma crise de saúde mental. E as pessoas não estão conseguindo lidar com isso sozinhas – e nem devem. Por isso, o Ministério do Trabalho e Emprego vem reforçando o papel das empresas nesse cenário, o que pode ser crucial para a saúde mental e bem-estar das mulheres.

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Ainda em 2024, o MTE publicou uma portaria que alterou significativamente a ideia de promoção de saúde e bem-estar em ambientes organizacionais. A pasta fez alterações na Norma Regulamentadora 1 (NR-1), e estabeleceu que as empresas brasileiras devem considerar também os fatores psicossociais relacionados ao trabalho ao gerenciar riscos ocupacionais. Sofrendo pressão por parte das empresas e dos sindicatos, o governo deve estipular maio de 2026 como data limite para sua implementação.

As Normas Regulamentadoras definem os direitos e obrigações de segurança e saúde no trabalho de empregadores e trabalhadores, e a NR-1 trata especificamente das diretrizes e requisitos para o manejo de riscos. Mas apesar de a NR-1 já possuir essa descrição desde a criação das normas nos anos 70, a mesma era restrita à integridade física de trabalhadores. O próprio entendimento dos efeitos do trabalho no adoecimento mental é recente: apenas em 2019 a OMS reconheceu o burnout como uma síndrome ocupacional

Assim, a alteração da NR-1 é parte de uma nova concepção sobre o trabalho, em que aspectos sociais também são considerados na compreensão dos diversos fatores que constituem as culturas e as relações organizacionais, como a ideia de bem-estar ocupacional. Outro movimento nesse sentido é o Programa Emprega + Mulheres, que promoveu alterações na CIPA e fixou medidas para combate ao assédio e às violências no trabalho para garantir segurança física e psicológica dos colaboradores. Essas mudanças serão positivas para todo mundo, mas serão decisivas para as mulheres no mercado de trabalho.

 Por que isso é importante para as mulheres? 

A atualização da NR-1 surge no momento em que o afastamento de trabalhadores por transtornos mentais se torna cada vez mais frequente. No Brasil, em 2024, o INSS registrou quase meio milhão de afastamentos por transtornos mentais em um ano, um número recorde que representa aumento de 68% em relação ao ano anterior. O país também é o segundo no mundo com mais casos de burnout, síndrome que afeta 30% dos trabalhadores brasileiros, e fica atrás apenas do Japão no número de diagnósticos. 

Olhando especificamente para as mulheres, o adoecimento delas é acentuado pelo contexto social e cultural, inclusive pelo machismo, racismo e pelas desigualdades. O Relatório Esgotadas, do Lab Think Olga, mostrou que 53% das pessoas vivendo com algum tipo de transtorno mental no Brasil eram mulheres. Elas representam quase dois terços das pessoas com transtornos de ansiedade e depressão no país, e são 72% dos casos de síndromes de burnout atendidos pelo SUS. Ainda segundo o Esgotadas, falta de dinheiro, sobrecarga e insatisfação com o trabalho são o que mais afetam a saúde mental feminina — aspectos que se traduzem como riscos psicossociais no ambiente laboral

“Tive burnout. Dividi a situação com o meu gestor e fui afastada. No retorno à empresa, fui desligada.” – Mulher da comunidade Think Eva

A cultura organizacional como agravante de transtornos mentais

A participação feminina no mercado de trabalho é diretamente atravessada pela responsabilidade no trabalho de cuidado. Mulheres dedicam duas vezes mais tempo a essas tarefas em comparação aos homens, e também são 51% das pessoas da chamada “geração sanduíche, cuidando dos pequenos e de idosos”. Essa estrutura de desigualdades desestabiliza a vida das mulheres de diversas formas:

Na dupla jornada
Na desigualdade salarial
Nas violências do trabalho

Cuidado e acolhimento como a única saída 

Empresas que investem em saúde mental fortalecem a própria sustentabilidade. O estudo ROI do Bem-Estar, da Gympass, mostrou que para 79% das empresas os programas de bem-estar e saúde mental importam para reter talentos e 85% dos líderes observaram redução de afastamentos e custos relativos. A OMS estima que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente por causa da ansiedade e da depressão, e que isso custa quase 1 trilhão de dólares à economia global.

Já não é possível separar a saúde dos funcionários dos negócios, mas políticas efetivas exigem lentes interseccionais. É preciso conhecer as necessidades das mulheres em relação à saúde mental, compreendendo riscos psicossociais associados às desigualdades e aos estereótipos de gênero. 

Entre as práticas, nós destacamos:

Liderança consciente e comprometida
Sensibilizar e treinar lideranças para entender os desafios enfrentados pelas mulheres é essencial. Não adianta oferecer ginástica laboral se, no dia a dia, as mulheres são interrompidas ou invalidadas. A mudança real começa na cultura organizacional.

Equidade salarial e segurança financeira 
O endividamento e a falta de dinheiro são os principais fatores que afetam a saúde mental das mulheres brasileiras. Além de ganharem, em média, 20% menos do que os homens, muitas ainda são vítimas de violência econômica e patrimonial. Garantir igualdade salarial e acesso a benefícios financeiros é um passo essencial.

Rituais mais inclusivos 
Happy hours e encontros de networking marcados no horário de saída das escolas impactam diretamente as mulheres, que ainda são as principais responsáveis pelo trabalho de cuidado. Repensar horários e formatos de confraternização evita a exclusão e promove uma cultura mais equitativa.

Flexibilidade real– O retorno ao presencial afeta as mulheres de maneira desproporcional, justamente por conta da sobrecarga do trabalho de cuidado. Empresas que priorizam entregas, e não apenas horas presenciais, criam um ambiente mais saudável e produtivo para todas as pessoas.

O ambiente da operação Os desafios enfrentados pelas mulheres em ambientes operacionais e fabris são únicos. Além de serem minoria, a desigualdade de autoridade se manifesta com ainda mais força. Dados mostram que 1 em cada 3 brasileiros se sente desconfortável em ter uma chefe mulher, e o assédio moral nesses espaços tende a ser ainda mais agressivo justamente por essa desproporção.

Tolerância zero ao assédio
- Quase metade das mulheres já sofreu assédio sexual no ambiente de trabalho e 1 em cada 6 pede demissão após o ocorrido. Ter um canal de denúncias sigiloso e externo é essencial, mas não suficiente. É preciso capacitar equipes de Compliance, Jurídico e RH para acolher vítimas e garantir investigações justas, sem revitimização.

Ouvir e agir As necessidades das mulheres não são as mesmas que as dos homens. Criar espaços de escuta ativa, implementar monitoramento contínuo e estabelecer indicadores específicos para avaliar a experiência das mulheres na empresa são medidas essenciais para garantir que suas demandas sejam levadas a sério e transformadas em ações. 

Quer continuar essa conversa ou dar os primeiros passos na sua empresa? A Think Eva pode te ajudar.

*Este conteúdo foi escrito em colaboração com Rubiana Viana.


Fonte: Think Eva

O movimento Vez & Voz é uma iniciativa do SETCESP - Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região.

A reprodução de conteúdos é permitida desde que citada a fonte.

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