Comecei a trabalhar no setor de transportes com pouco mais de 20 anos. Iniciei no departamento de compras, fazendo algumas demandas para o financeiro, depois, fui para o almoxarifado, e em seguida, promovida para a área de suprimentos.
Até que então, a transportadora resolveu abrir uma filial no Nordeste, mais precisamente no Rio Grande do Norte, e eu fui para lá implantar a área de almoxarifado.
Quando cheguei, a pessoa que iria coordenar a área de manutenção havia desistido de assumir o posto.
Então um colega me disse, ‘Naira quem poderia assumir esse cargo é você’. Fiquei espantada – Eu? Por que eu?! Aí ele me falou: ‘Você conhece todas as peças, sabe como funciona o sistema, e outra, você gosta de mandar’, disse dando risada.
E o gerente se agradou da sugestão dele, porque também conhecia meu trabalho. Me fez o convite formal e eu topei. Saí do Rio de Janeiro e fiquei por lá mais de dois anos.
Lembro que na época estava realizando um curso de estética, pensando em ir para uma área completamente diferente, mas eu resolvi agarrar aquela oportunidade. Sempre gostei de maquiagem e de moda, e ainda gosto, mas hoje é apenas um hobby.
No começo, senti uma certa resistência por parte do meu pai em aceitar essa função, por justamente, essa ser uma área bastante masculina. Mas com o tempo, ele foi vendo que a empresa era séria, e eu mesma, fui conquistando meu espaço e respeito.
Bem neste comecinho, quando virei líder da manutenção, tive um episódio com um mecânico, que disse que eu estava falando demais para quem não sabia consertar um carro. Eu só respondi que eu estava lá para coordenar, e quem tinha que consertar, era ele, e não eu.
Eu conheço o que é um motor, um óleo, um filtro, mas aquela demanda quem tinha que saber era ele. Foi uma única vez.
Procuro me dar bem com todo mundo, isso tem dado certo, mesmo que a gente não consiga agradar a todos o tempo inteiro.
Depois de anos de trabalho, chegou um tempo nessa transportadora, que as portas se fecharam, isso bem no início da pandemia. As coisas estavam difíceis para todos.
Aí fiquei sabendo que o Grupo Mirassol, estava vindo para o Rio de Janeiro. Mandei o currículo e fui chamada. A Expresso Mirassol estava iniciando uma operação dedicada para o transporte de pesados.
Fui contratada e voltei novamente a coordenar a equipe de mecânicos e a parte administrativa de controle de manutenção dos veículos. Minha tarefa é direcionar o veículo que precisa parar para fazer uma manutenção, tanto preventiva quanto de emergência.
A gente faz de tudo para que não ocorra, porém, se quebra um veículo na estrada, temos que estar prontos para atender aquilo de imediato. Se não, aumenta o risco de roubos e atrasa a entrega da carga.
Fora o cuidado com a vida do motorista e a segurança nas rodovias. Essas responsabilidades estão ligadas ao nosso setor.
O que me deixa feliz é ver em alguma grande avenida a carreta da Mirassol passando, toda bonitona. Quando encontro com uma rodando, me sinto realizada. Sou muito feliz por fazer o que eu faço.
O que precisa mudar é a mentalidade de que há cargos e funções exclusivas, para homens ou para a mulheres. O que importa mesmo, é a competência e a dedicação, não o gênero.
Qualquer coisa que você mulher deseja, tem que seguir em frente para alcançar. Não se limite pela opinião das pessoas, não deixe ninguém impor limites aos seus sonhos. O sonho é seu, e ele pode ser do tamanho que você quiser. Eu sonhava crescer profissionalmente, e consegui. Já cheguei até aqui.
Por Naira Maria, líder de manutenção na Expresso Mirassol
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