Assédio nas empresas: estudo mostra como idade e cargo influenciam condutas abusivas
- Vez & Voz
- há 4 dias
- 2 min de leitura
Foram analisados dados de 24.326 profissionais de 174 organizações entre 2018 e 2024

Questões de assédio moral e sexual ainda estão presentes nas empresas, e uma nova pesquisa tentou entender melhor esse cenário.
O levantamento "Triângulo do Assédio e a Roda da Mudança Comportamental" é resultado da análise estatística do banco de dados da ferramenta de integridade da S2 Consultoria – Potencial de Integridade Resiliente, que avalia como os participantes lidam com dilemas éticos em suas atividades profissionais. Foram analisados dados de 24.326 profissionais de 174 organizações entre 2018 e 2024.
O ponto que mais surpreendeu Renato Santos, cientista comportamental e fundador da S2, foi o alto grau de racionalização por parte dos agressores confessos. "Frases como 'foi só uma brincadeira' ou 'achei que ela queria também' mostram como o agressor neutraliza sua culpa", afirma. "Isso confirma a teoria do desengajamento moral, em que o indivíduo justifica suas ações antiéticas para preservar sua autoimagem."
Diante disso, ele comenta que uma das estratégias mais eficazes para mudança comportamental é o uso de treinamentos baseados em dilemas éticos.
"Essa abordagem faz com que potenciais assediadores se vejam refletidos nas situações apresentadas e passem a reconhecer em si mesmos comportamentos que antes negavam", explica Santos. "Não basta informar regras — é preciso confrontar crenças e gerar desconforto reflexivo para promover verdadeira transformação ética."
De acordo com a análise, profissionais mais velhos praticam, em média, 13% mais assédio moral que os jovens - o que pode ser resultado da normalização histórica da comunicação violenta, acredita Santos, que por muito tempo foi confundida com “postura firme” ou “exigência técnica”.
"Para transformar esse padrão, as empresas devem promover reeducação geracional por meio de programas contínuos de formação em liderança ética, sensibilização emocional e, principalmente, fomentar espaços de escuta intergeracional."
Ele ressalta, ainda, que é essencial evitar que a organização crie uma guerra geracional. "O foco não deve ser na culpa, mas sim na construção de uma cultura de diálogo entre diferentes gerações", diz. "Assim, é possível transformar comportamentos aprendidos no passado em oportunidades de evolução ética coletiva."
Já em relação ao assédio sexual, profissionais mais experientes demonstram maior intolerância a comportamentos invasivos - o que pode estar relacionado a uma maior consciência sobre riscos legais e reputacionais, assim como a maior vivência institucional, o que favorece o discernimento de limites éticos, detalha Santos.
"Muitos desses profissionais já testemunharam as mudanças sociais e legais em torno do tema e se ajustaram a elas", acrescenta. "Contudo, esse dado também acende um alerta: os mais jovens podem naturalizar o assédio ao enxergá-lo como 'parte do jogo' em seu processo de entrada na organização."
Por isso, o consultor diz ser fundamental abordar o tema de forma clara nos processos seletivos e nos treinamentos de integração.
A pesquisa revela também que 40% dos profissionais demonstram resiliência apenas moderada frente ao assédio sexual. Isso significa que uma parte expressiva da força de trabalho pode não reagir ou se omitir diante de comportamentos abusivos, reforçando a cultura do silêncio e da conivência.
Para Santos, o dado é preocupante, e para mudar esse cenário, ele acredita ser necessário fortalecer canais de denúncia acessíveis, confiáveis e com retorno estruturado.
Fonte: Valor Econômico