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Rosangela Oliveira: “Trabalho para elas se destacarem, para que sejam vistas”

Acervo pessoal Rosângela Oliveira
Acervo pessoal Rosângela Oliveira

Vamos lá. Foi em 2007, quando terminei um curso profissionalizante, aos 16 anos, que comecei a trabalhar no setor. Este curso durou seis meses, terminou na sexta-feira e, na segunda-feira, eu recebi uma ligação para fazer uma entrevista.

A ligação foi de manhã e a entrevista à tarde na Ala Cargo. Uma empresa que fazia pouco tempo que estava operando. Ela começou as atividades em janeiro de 2007. Em julho, fui contratada.

Quando cheguei, a empresa ainda estava sendo estruturada. Entrei como Jovem Aprendiz para atender o telefone e passar as ligações para a diretoria. Dois dias depois que comecei, o único funcionário que a empresa tinha pediu para sair.

Então, ficaram os donos e eu. Aí fui aprender tudo que uma transportadora faz internamente: emissão de CT-e, folha de pagamento, atendimento ao cliente. Depois veio outra pessoa, já com mais experiência e eu fiquei auxiliando.

Ao completar 18 anos, a empresa fez a proposta para eu ser efetivada. Comecei minha faculdade de Logística, passei a ser programadora de veículos. Me destacava porque tinha muita vontade de fazer as coisas darem certo.

Completei minha faculdade e passei de programadora para a supervisora, e depois para líder. Passou um tempo, fiz outra faculdade, e desta vez assumi o cargo de coordenadora.

Em toda essa trajetória, houve vários desafios, situações desagradáveis, mas me mantive firme.

Com 16 anos, era muito difícil de ser ouvida, muitas vezes tinha que vestir uma armadura que não era minha. Ou eu tinha essa postura, ou acabaria sendo dominada.

Se você vai para uma reunião em que é a única mulher, às vezes você tem que falar um pouco mais alto para te escutarem.

Fui montando a minha história, passando por vários departamentos e a empresa também teve suas fases. Ela iniciou com três sócios que depois resolveram fazer a dissolução da sociedade.

Aí, quando teve essa dissolução, veio uma oportunidade para eu trabalhar na área administrativa.

Foi um momento muito difícil. Marcou um tempo de construção da empresa e da minha carreira. Realmente, a minha vida pessoal ficou ali de escanteio e o investimento foi mais focado na minha vida profissional. 

Trabalhava muito, inclusive, de final de semana. O telefone tocava em qualquer horário. Hoje, isso não é mais um problema. Tenho uma equipe que consegue dar conta, e fico nos bastidores aplaudindo o crescimento de cada colaborador do meu time.

Acervo pessoal Rosângela Oliveira
Acervo pessoal Rosângela Oliveira

Quando terminou o processo, o único dono que ficou me fez uma proposta como forma de agradecimento e reconhecimento. Nesse momento virei sócia da empresa e fui adicionada no contrato social.

Com as mudanças, a Ala comprou outra empresa de transporte e passou a atuar, além da carga lotação, com distribuição. Em 2020, quando houve a pandemia, tínhamos clientes de e-commerce, e nos destacamos muito neste segmento. Foi neste período que virei gerente operacional.

Hoje, sou responsável por toda operação, a parte de programação, de gerenciamento de risco e equipe de SAC. Tenho três coordenadores que me ajudam com as equipes.

Tento fazer uma liderança bem participativa, conjunta com eles e está dando certo. O que me deixa mais feliz é apoiar as pessoas e vê-las crescendo e quando o time ganha um prêmio ou somos reconhecidos por algum cliente como o melhor transportador, vejo que o meu trabalho está fazendo sentido.

Meu desafio no dia a dia é fazer com que realmente as pessoas acreditem no negócio. É um trabalho emocional mesmo. Tem muita gente dependendo dessa empresa para dar certo. Não é só funcionário. Há uma família por trás de cada colaborador.

Minha mãe, Neusa Oliveira, me inspira muito como mulher, inclusive na área profissional, porque ela sempre foi uma pessoa muito querida no trabalho. Até me emociono ao falar dela. 

Ela decidiu que me teria como filha. Meu pai era doente, faleceu muito jovem, mas mesmo assim ela me quis. Não foi um planejamento e nem um acidente, foi uma decisão. Ela criou meu irmão e eu sozinha e continuou trabalhando como auxiliar de limpeza.

Acervo pessoal Rosângela Oliveira
Acervo pessoal Rosângela Oliveira
As mulheres são muito boas, só o que falta realmente para elas é oportunidade. Em nosso setor, temos algumas funções que, quando elas sentam ali, dominam com toda organização, cuidado e alegria.

Lidamos com uma demanda muito pesada no dia a dia e quando a gente chega com a nossa alegria, as coisas ficam mais leves. 

Temos aqui na Ala Cargo uma grande gama de agregados, incluindo motoristas mulheres. Temos em média 120 veículos circulando todos os dias. E tem também motoristas que trabalham com as esposas como ajudante.

Quando tiver mais mulheres na liderança, a gente vai olhar com mais carinho para elas e pensar no que falta para que elas se sintam bem. Sabe por que temos poucas mulheres motoristas? Porque é difícil ser motorista mulher no Brasil.

Acervo pessoal Rosângela Oliveira
Acervo pessoal Rosângela Oliveira

O mundo do transporte ainda se comporta muito como um setor para homens. Pátio de indústrias, centros de distribuições, postos de apoio nas estradas precisam evoluir para receber as mulheres.

O próprio movimento Vez e Voz do SETCESP foi criado porque, em algum momento, entrou uma mulher na liderança e falou: precisamos criar alguma coisa para ouvir as mulheres, para falar das mulheres do setor, para apresentar quem são elas para o mundo.

E quando elas chegam, o setor apoia. É um setor como os outros onde você vai conseguir conciliar vida profissional e familiar. Talvez não seja fácil, mas é possível. Da minha parte, trabalho para elas se destacarem, para serem vistas.

Esse ano completei 18 anos de trabalho no setor de transporte. Obrigada pela oportunidade de conhecerem minha história, que vocês não parem por aqui. Continuem esse trabalho que tem sido feito, para o mundo ver as mulheres no transporte como realmente elas são.


Rosangela Oliveira é gerente operacional na Ala Cargo.

O movimento Vez & Voz é uma iniciativa do SETCESP - Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região.

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