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Carla Almeida: “Não tem isso; coisa de homem ou de mulher. É coisa de profissional”

Tinha uns 18, quase 19 anos. Na época, eu nem sabia o que era transporte. Trabalhava em um restaurante, mas com uma vontade enorme de trabalhar em escritório.

Foto: Acervo pessoal

Um dia, nas minhas primeiras férias de trabalho, vi um anúncio de uma vaga de emprego para ser auxiliar de transporte. Me inscrevi e fui chamada para o processo seletivo.

A pessoa que me entrevistou me perguntou o porquê eu queria sair do emprego e ocupar aquela vaga. Contei o motivo, que não era o mais persuasivo, mas sincero: porque eu quero trabalhar em escritório, disse.

Então, no ano de 2001, entrei na transportadora Translecchi. Gostei muito de trabalhar com o transporte. Fiquei apaixonada pela correria, aquela coisa de 'vamos, vamos, vamos'... Eu sou bem agitada. Deu muito certo. Lá na área de operação, era a única mulher.

Passado um tempo, aconteceu de perdermos dois grandes clientes e eu acabei sendo desligada. Como já tinha uma certa experiência procurei outra colocação na mesma área, e consegui ser contratada pela Liran Transportes.

Fiquei com as atividades de emissão de CT-e, de carta frete e responsável pelo cadastro de motoristas.

Depois, comecei a fazer o trabalho de roteirização de cargas, o cálculo das distâncias entre as cidades e prazos para a entrega. Até então, não tinha grau superior.

Em 2006, a empresa financiou 70% da minha faculdade. Cursei Logística e quando terminei assumi o cargo de supervisora de armazém, na sequência fui ser coordenadora de distribuição.

Foto: Acervo pessoal

Apesar de sermos pessoas muito simples, meus pais sempre me incentivaram ao estudo e ao trabalho.

Quatro anos mais tarde, eu iniciei um MBA em Logística e Transporte e fui crescendo dentro da empresa. Passei pela parte de SAC e de atendimento ao cliente.

Gostei de lidar com os clientes, e cada vez mais próximo deles, passei para a área comercial. Vendedora executiva júnior, pleno, sênior.

Tudo estava caminhando tranquilamente, até que em 2020, a Liran Transportes foi vendida para o Grupo Morada. Eu com 18 anos de empresa, vi a Liran começar com 6 veículos e passar para uma frota de 250. Passou um filme na cabeça de tudo o que eu tinha vivido ali.

Eu já conhecia o Grupo Morada, mas mesmo assim, a notícia causou um misto de espanto e surpresa, que depois deu lugar a satisfação e a euforia.

Eles não demitiram ninguém, compraram a empresa, como se diz: de porteira fechada. Só foi embora quem quis.

E esse foi um momento em que se abriu para mim um leque de oportunidades gigantesco. Eu pude participar de vários treinamentos. Fui me desenvolvendo e me aperfeiçoando.

Recentemente, recebi a notícia de uma promoção para o cargo de gerente comercial no segmento de carga embalada e farmácia. Um verdadeiro desafio. Gosto de ser desafiada.

Eu sei que as duas coisas mais difíceis nessa jornada são: primeiro é ter o time junto com você. Fazer com que a equipe sonhe com você o seu sonho. E o segundo é ter um equilíbrio entre sua vida profissional e pessoal.

O equilíbrio é essencial. O seu time vendo que você está bem, ele também ficará bem.

Foto: Acervo pessoal

No começo conciliar o pessoal com o profissional foi complicado. Fui mãe solteira muito nova.

Hoje, minha filha já é adulta, eu já consigo administrar melhor meu tempo. Concilio até outras atividades extras. Programo toda minha semana determinando, esse momento é para a minha família, esse é para o meu cuidado espiritual, esse do trabalho, este é para mim...

Porque sou do tipo de pessoa que acha que sempre tem mais coisa a fazer.

Enquanto a gente respirar, temos a oportunidade de criar, de viver e de fazer mais. Mais por si, e pelos outros.

Vejo que hoje, o transporte teve uma melhora nítida para as mulheres. Elas estão ocupando mais espaços aqui dentro. Muitas empresas estão fazendo questão de ter diversidade de gênero, não só para ter mulheres em quantidade, mas pela competência.

Claro, que existem certas resistências. E, por conta dessas resistências que foram tão duras por algum tempo, algumas mulheres optaram por outros caminhos, e já não se interessam mais pelo setor de transporte, achando que é só coisa de homem.

E não tem isso, coisa de homem ou de mulher. É coisa de profissional, independente do gênero.
Foto: Acervo pessoal

Já estive em reuniões com clientes, alguns anos atrás, que eu tentava falar alguma coisa, mas era perceptível que a pessoa não demonstrava nenhum interesse pela minha fala, volta-se as atenções ao homem da negociação, não importava o que eu dissesse.

E não foram poucas vezes que isso ocorreu.

Chateava um pouco essas situações, porque eu sei da minha competência. Mas como eu era apaixonada por transporte eu continuei, com fé e coragem.

Outras mulheres que estavam no mesmo nível que eu, desistiram. Na faculdade vi muitas entregando os pontos, preferindo outros ramos.

No armazém eram só homens, e havia momentos em que eu era desafiada, tanto por ser mulher quanto por ser nova.

Se agora eu encontrasse uma mulher a ponto de desistir eu falaria para ela que eu já estive na mesma situação. Não só pensei em desistir, como também não acreditava que um dia eu poderia chegar onde eu estou. E olha que, modéstia à parte, eu fui longe.

Dou Graças a Deus que eu cheguei até aqui, e eu não esqueço da onde eu vim. Tenho gratidão por tudo e por todos.

Sou grata às pessoas que estiveram me ensinando. Sempre haverá pessoas que nos estenderão as mãos. Então, que a gente possa voltar o nosso olhar para aqueles que estão estendendo as mãos, e não para àqueles que estão te dando o pé.

Aprenda o que você tem que aprender e vai, porque dará certo. Vai dar certo.


Carla Almeida é gerente comercial na Morada Logística.

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