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Jordana Siqueira: “A menina do escritório ‘não existe’. Ela é uma profissional, como qualquer homem”

Minha história no transporte começou pela do meu pai. Eu fui trabalhar com ele na transportadora ainda jovem. Sempre gostei da parte administrativa, então, logo decidi que na faculdade, cursaria Administração de Empresas.

Entrei na Transfuturo como auxiliar administrativa, cuidando da parte financeira. Depois surgiu uma oportunidade para o departamento pessoal e aí fui aprender a parte de folha de pagamento, contratação de pessoal e demissão.

Acervo pessoal Jordana Siqueira

A empresa foi crescendo, e a gente acabou ampliando o setor. Hoje eu permaneço no RH, mas na parte estratégica em desenvolvimento de liderança, treinamentos e planejamento da empresa.

Quem está no transporte sabe que aqui a gente não para. É movimento o dia todo. Eu gosto desse agito constante.

Agora, o que é desafiador mesmo, nas empresas de qualquer setor, é a gestão de pessoas. Eu falo que você pode ter o caminhão mais caro, mais tecnológico, mais robusto, só o que vai importar mesmo para o cliente é o tratamento que ele recebe.

Lá na ponta do nosso trabalho tem o motorista. E, precisamos considerar que a carga emocional dele é muito grande. Tem o trânsito, a solidão, o desconforto em estar longe de casa. Nós que estamos na parte administrativa temos que ser o suporte para eles, porque o dia a dia na estrada é muito desafiador.

Só que esta atitude acolhedora tem que ser recíproca. E uma coisa que me incomoda, é a forma usada por alguns deles na tratativa com as funcionárias que trabalham internamente. Eles falam: a menina do escritório.

A menina do escritório não existe, a menina do escritório é uma profissional, como qualquer homem.

Vejo esse destrato com elas. Comigo não, talvez, por ser a filha do dono. Nem sempre as pessoas são comigo como realmente elas são no dia a dia. Enfim, tudo isso é para dizer que essa é uma cultura que eu já venho batalhando e buscando mudar internamente, exigindo mais respeito com elas.

Acho que a mudança vem com o aperfeiçoamento. Então, preciso investir em treinamento e conscientização e trabalhar a cultura da empresa. Por esse motivo, ajudei a criar um projeto interno que é o Força Pink, e nós fazemos rodas de conversas para trocarmos experiências, promovemos palestras, atividades físicas entre outras coisas.

Acervo pessoal Jordana Siqueira

Eu quis trazer aqui uma forma de trabalhar o lado emocional para o bem-estar. Causar um sentimento de empatia ao invés de julgamento, para a gente se unir, se desenvolver e crescer em um ambiente de trabalho tranquilo, sem fofoca, competição ou aquela coisa tóxica.

Eu achei maravilhoso quando conheci através do Instagram, esse movimento Vez & Voz para dar mesmo voz as mulheres. É algo que veio ao encontro do que a gente estava fazendo aqui.

A mulher dificilmente sairá do ambiente de trabalho dela e vai chegar em casa deitar e dormir. Ela vai chegar e cuidar da casa, do filho, do marido, talvez de um pai ou uma mãe, e só depois descansar.

Falo por experiência própria, porque eu mesmo já tive dificuldade de conciliar vida pessoal e profissional. Às vezes aqui a gente não tem hora para parar. Mas graças a Deus eu tenho um bom suporte que é a minha família, que consegue me ajudar a lidar com tudo isso.

No passado, eu já pensei em sair do setor e mudar de ares. Por várias vezes, eu pensei que aqui não é um ramo para mulher. Batia a insegurança se eu teria conhecimento o suficiente para tomar conta da empresa como meu pai na gerência, por exemplo.

Percebi com o tempo, que o importante é que tenhamos pessoas com quem a gente possa contar e que conheçam daquilo que nós não sabemos. Nem tudo eu vou resolver sozinha.

Agora eu já não tenho mais tanta preocupação de se eu vou conseguir fazer a gestão do negócio, na falta do meu pai. Tenho dois irmãos que também trabalham aqui e o filho do sócio do meu pai também. De mulher, na diretoria, sou só eu.

Eles são muito receptivos a me ouvir, facilita terem essa mente aberta para a gente compartilhar os mesmos objetivos. Não vejo neles qualquer objeção por eu ser mulher.

Acervo pessoal Jordana Siqueira

Tudo o que eu falo aqui dentro é muito levado em conta, mas fora deste ambiente a coisa muda de configuração.

Digo isso, porque recentemente fui em um treinamento do SEST SENAT, eu vi lá muitos homens do ramo de transporte e lá eu senti esse peso de estar num setor extremamente masculino. Aí você se põe à prova e questiona: será que eu entendo bem desse negócio que é o transporte?

Com nossas crenças limitantes, nós achamos que não somos capazes. Esse é um dos motivos pelos quais temos que nos fortalecer e quebrar as barreiras que nós mesmas levantamos para nós.

Por um tempo, eu achei que seria incapaz, mas eu descontruí essas barreiras. E hoje para mim, o que mais me inspira é eu saber que posso vencer as minhas limitações.

O caminho, muitas vezes, não vai estar aberto, mas a gente é capaz de destruir barreiras e construir pontes.


Por Jordana Siqueira, diretora Administrativa da Transfuturo.

Siga a Jordana no Instagram e Linkedin: @jordanasiqueiramt e Jordana Siqueira

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