Rose Fassina: “Existe uma lacuna enorme de mulheres na liderança”
- Vez & Voz
- há 2 dias
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Cheguei no setor de transporte não muito por opção, que seja dito. Estava na faculdade de Psicologia e, no momento em que tive de fazer o estágio – estava bem difícil conseguir – recorri então à empresa de transporte da família, a Fassina, da qual meu pai era sócio.
Na empresa só havia o Departamento Pessoal, não tinha o RH, então aproveitei para fazer um projeto de implementação da área. Um dos gerentes da empresa gostou bastante do meu trabalho e me convidou para ficar efetivamente na Fassina.
Como a empresa é familiar, tinha primas minhas trabalhando lá também, só que no início, nós mulheres ficávamos somente na parte da execução. Confesso que levou um tempo para alcançarmos o poder de decisão.
E, desde lá, já se vão 40 anos de trabalho na empresa, onde estou até os dias de hoje. Sou diretora de RH e das áreas de TI e Segurança do Trabalho. Agora, também estou como presidente eleita do Sindisan (Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista).
Já atuava no sindicato há alguns anos. Antes de ser presidente, fiquei 4 anos como vice. Sempre, durante as convenções coletivas, era convidada para participar das discussões e auxiliar nas negociações com os sindicatos laborais. Sou a primeira presidente e também fui a primeira diretora mulher da entidade.
Agora reúno esforços para trazer mais mulheres para a liderança do Sindisan. Creio que ainda existe um viés na sociedade de que o líder sindical tem que ser homem, e não é isso, estou aqui para quebrar esse paradigma.

Uma das coisas que considero importante dizer sempre que tenho oportunidade é que não fui eleita por ser mulher, mas sendo mulher, defendo a pauta da mulher e de alguma forma desejo perpassar essa intenção em todas as minhas ações.
O olhar da mulher na gestão é diferente. Nós, durante muito tempo, até copiamos o modelo dos homens de gerir as ações com dureza, mas esse padrão já está ultrapassado e nossa competência se destaca ao usar nossa intuição, o nosso olhar feminino e calmo.
Sinto que precisamos mudar o inconsciente coletivo e mostrar de verdade a nossa capacidade, ainda que ela tenha que ser avalizada por homens, porque, como são eles que estão no poder, serão eles que abrirão as portas para nós.

Apesar disso, tenho visto mais mulheres nas empresas, principalmente na parte administrativa. E agora estamos nos esforçando para integrá-las na parte operacional. Só que não podemos perder de vista que existe outra lacuna enorme de mulheres na liderança. Vemos que elas até chegam a um certo ponto, mas não conseguem alcançar o topo.
Nada impede uma mulher de fazer o que ela quer, mas podemos facilitar o caminho para que o desejo dela não se torne um grande desafio, criando um ambiente adequado e livre de assédio.
Acredito que a gente tem sempre um projeto para ser desenvolvido, o tempo todo, e você só consegue melhorar em algo quando começa a fazer. Teve um momento da minha vida que entendi que poderia fazer mais pelo transporte e não parei mais.
O setor de transporte tem todas as oportunidades possíveis para as mulheres e a gente tem que evoluir nesse sentido, de cima para baixo. Não basta só a empresa querer contratar mulheres, antes disso, precisa criar condições para que elas se sintam acolhidas e tenham espaço.
É dessa forma que vamos quebrando todos os paradigmas de permanência das mulheres em lugares que antes elas não ocupavam.
Rose Fassina é presidente do Sindisan.
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