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Simone Azevedo: “Você pode sentir medo e ainda ser corajosa”

Atualizado: 22 de ago. de 2023

Iniciei minha jornada profissional aos 14 anos. Um pouco depois da minha mãe se separar. Ela ficou sozinha tendo que cuidar de mim e do meu irmão de 11 anos. Essa situação me motivou a buscar um trabalho para contribuir em casa.

Eu sempre gostei de música. Quando minha mãe se separou — naquela época não existia Lei Maria da Penha — ficamos sem nada. Lembro que queria muito comprar um rádio e como minha mãe não tinha condições fui atrás de uma oportunidade.

O meu primeiro emprego foi em uma agência de publicidade, onde permaneci por seis meses até sair devido a um assédio. Com apenas 14 anos, eu não compreendia bem o que aquilo significava.

Ao conversar com a minha mãe sobre os comportamentos inadequados por parte de um dos donos da empresa e as ofertas que ele me fazia, ela me fez o alerta: era hora de sair dali. E mesmo apreensiva eu saí, porque financeiramente a gente tinha muitas necessidades e vivíamos com várias restrições.

Tive logo na sequência uma oportunidade por indicação de uma prima, em um escritório de advocacia onde fiquei por 2 anos e meio.

Depois, uma amiga me indicou para uma empresa de transporte de cargas fracionadas. Foi minha primeira experiência no setor e serviu de base para um aprendizado de muitas coisas que sei hoje.

Fiquei lá por três anos. Aí surgiu a oportunidade de entrar numa empresa focada em carga lotação. Iniciei lá na recepção, passei pela área operacional e financeiro. Depois tive a oportunidade de trabalhar na área comercial. Uma área com a qual, simplesmente, eu ainda não tinha tido contato nenhum. E, além disso, era bastante tímida.

Na escola, não interagia com as outras crianças. Preferia ficar lendo. Muito disso, porque eu tinha vergonha da minha situação.

Minha mãe sofreu violência doméstica. Isso foi bem complicado. Como eu morava em uma cidade pequena, todo mundo sabia do que acontecia. Sentia muita vergonha. Só queria ficar sozinha.

Na área comercial, fui fazendo os atendimentos aos clientes, por telefone, e desenvolvendo a habilidade de me comunicar.

Só que eu cultivava o sonho de fazer uma faculdade. E até ali, não tinha condições financeiras. Isso me levou a mudar para uma outra empresa de transporte, em que eles pagavam 50% da faculdade.

Dessa forma, consegui me formar em Administração com ênfase em Comércio Exterior. Fui a primeira da família a conquistar um diploma universitário.

Nessa empresa, tive a oportunidade de participar do projeto de implantação de um novo sistema, e com isso, comecei a dar treinamento em várias filiais. O que também me ajudou a melhorar mais essa parte de timidez e de introspecção, e me trouxe muitos aprendizados.

Em 2012, sai desta empresa onde fiquei por 12 anos e tive uma breve passagem em uma empresa de tecnologia. Entretanto, a logística estava correndo no sangue e voltei para a área iniciando a implantação de um novo sistema na Conlog, que agora tem uma nova marca Deep Logística, onde estou há 11 anos.

Em 2021, já atuando como analista comercial, obtive uma promoção e me tornei coordenadora comercial. Esse feito significativo marcou o ápice de uma jornada de quase 24 anos no setor de transporte, culminando em um cargo de liderança.

Embora esteja contente com a minha posição atual, essa foi uma meta que busquei por muito tempo.

Observei muitos homens ascenderem a cargos de gerência e coordenação, e pensava comigo mesma: Eu também posso ser uma dessas pessoas.

Mas acredito que isso é uma questão cultural. Infelizmente, criou-se o pensamento de que a mulher é submissa, de que ela não tem firmeza, de que ela está ali para servir... essas coisas sem fundamento.

Tudo o que estamos fazendo aqui é para transformar essa mentalidade e fazer com que as próximas gerações sofram menos.

Como é uma coisa que está enraizada, precisamos de alguns mecanismos como estes movimentos de apoio às mulheres para que as pessoas comecem a mudar.

Há vinte anos, não imaginaria que eu chegaria onde estou. Lógico que eu tenho outros objetivos para alcançar ainda.

Pela história, de onde vim e da estrutura que eu tinha, com certeza, é uma vitória chegar aqui.

Por ser mulher, existe um sentimento de que você tem sempre que estar ali se reafirmando. Falo para mim mesma: sou capaz e tenho competência.

Por exemplo, tive receios sobre ser demitida ao engravidar, mas isso se mostrou ser apenas coisa da minha cabeça. Porque o meu gestor, quanto a isso, foi excelente. Sempre me deixava tranquila, para cuidar da minha saúde e do bebê.

Hoje, uma das coisas que me mantém na empresa é o respeito com as pessoas independente de gênero e as oportunidades, que são proporcionadas a todos e também a flexibilidade para cuidar do meu filho, pois como mãe solo — de um menino lindo ‘Joaquim’, de 6 anos é necessário conciliar e administrar a vida profissional e a pessoal. Só que o meu gestor sabe que isso não impactará na entrega do meu trabalho.

E, para outras mulheres que quiserem trabalhar e tiverem disposição para enfrentar os desafios, o setor de transporte está aberto. Acho que esse movimento reforça isso, de que a mulher pode estar onde ela quiser.

Uma frase que eu gosto bastante e tenho na minha agenda anotada é a seguinte: você pode sentir medo e ainda ser corajosa. Levo isso para vida.


Por Simone Azevedo, coordenadora Comercial na Deep Logística.


Siga a Simone no Instagram e LinkedIn: @sisi.andrade.azevedo

https://www.linkedin.com/in/simone-de-andrade-azevedo-34994134/

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