Foi durante a minha pós-graduação em Recursos Humanos, que as portas do setor de transporte se abriram para mim. Iniciei minha jornada na Terra Master, em julho de 2020. No auge da pandemia.
Em um momento cheio de incertezas, tive a oportunidade de trabalhar no RH da empresa, e adorei lidar com vários tipos de pessoas: os motoristas, o time do operacional e o do administrativo.
Só que em outubro deste mesmo ano, eu sofri um acidente de moto muito sério. Nessa época eu me vi muito distante da realidade que eu tinha imaginado. Estava há pouco mais de 3 meses na empresa, e parecia que o sonho chegaria ao fim.
Fiquei 2 meses internada, com grande probabilidade de perder uma perna.
Surgiram muitas dúvidas e medos nessa época. Um deles foi: será que eu vou voltar a trabalhar?
Até mesmo os médicos do INSS, me questionavam: — como vai ser lá na sua empresa porque agora você será ‘laudada’ como PCD, hein? Fui avisada.
Eu não sabia o que responder. Mas ali não era um ponto final na minha história na Terra Master. Foi só uma vírgula.
Ao invés de me desligarem da empresa, muito pelo contrário, me deram uma nova chance com uma recolocação incrível.
Antes eu era assistente de Recursos Humanos, hoje eu sou analista comercial. Tenho a sensação de que meu chamado e vocação sempre foi para este cargo.
Todo esse momento conturbado me deu muita força para viver o que eu estou vivendo hoje, porque eu nasci para lidar com pessoas.
No início fiquei trabalhando de casa, prospectando clientes e conciliando a rotina com as minhas fisioterapias. Sim, após a alta médica ainda precisei de alguns cuidados específicos.
Tenho uma redução de mobilidade e fiquei com sequelas permanentes. No começo foi difícil, mas hoje eu lido muito bem com tudo. Tudo mesmo.
Com o passar do tempo, minhas atividades no setor só estão sendo ampliadas. Foi uma alegria porque eles perceberam meu potencial, no pouco tempo que estive no RH.
Não posso mais usar salto, e nas reuniões de negócios, vou sempre usando tênis e calça. Sou a descolada da equipe, digo as vezes brincando.
O importante é que eu tenho conseguido trazer novos contatos para serem clientes da Terra Master.
Comecei até um MBA em Gestão de Equipes e Gestão Comercial, que une os cenários de vendas e o lidar com pessoas. Saber como direcionar e conduzir situações é exatamente o que eu gosto.
O primeiro contato do cliente com a Terra Master começa no meu atendimento, e na conclusão do serviço, o que me faz sentir realizada é que o cliente tenha tudo aquilo que foi estipulado comigo antes. Porque cada setor aqui tem comprometimento e contribui com aquilo que no início eu garanti.
Então, ter colegas de trabalho que fazem isso acontecer é o que dá sentido a todo o meu trabalho.
Por outro lado, meu maior desafio é fazer com que o cliente entenda o valor do serviço de transporte e não o preço, porque a gente entrega qualidade.
O transporte rodoviário é muito vasto, e a grande maioria de profissionais é de homens. Mas aqui eu sempre me senti acolhida. Como temos uma CEO mulher, isso me deixa muito mais confortável.
Percebo que essa geração nova pensa em equilibrar mais os ambientes e já normalizaram o fato de termos mulheres no transporte cuidando da parte administrativa, operacional, como motoristas e na liderança.
Eu nunca me senti intimidada, porém sei que nem todas as mulheres têm essa oportunidade de fazer parte de uma equipe que as entende. Tenho sorte de ter essa inclusão, não apenas pelo fato de ser mulher, mas também devido a minha redução de mobilidade.
Em determinados momentos os homens se impõem mesmo, e nós como mulheres, precisamos nos impor também. Não é fácil impor limites, mas necessário.
Às vezes, eu até brinco com os outros colaboradores: eu ando devagar, mas no trabalho eu corro, viu.
As mulheres costumam ter mais essa sensação de querer atender todo mundo, só que é preciso uma pausa. Parar, respirar e pensar em si mesma de vez em quando.
O que falta ainda hoje, é a mulher enxergar esse setor como uma opção. Quando a mulher entende que ela pode, ela vai, ela faz e executa com perfeição.
Por isso, digo que é necessário que a gente oriente nossa família e as nossas amigas que é super possível trabalhar no transporte. E assim, a gente vai disseminando a ideia de que as mulheres podem considerar este espaço.
Então, o movimento é importante para a conscientização.
O Vez e Voz é inspirador e espero que mais ações e projetos como este, possam chegar a mais pessoas. Quanto mais falamos, mais ganhamos em equilíbrio e alcançamos a igualdade.
A força está em cada uma de nós. Que nada nos limite, porque somos as roteiristas de nossa própria história.
Nota de rodapé:
Thalita faz aniversário oficialmente no dia 14 de junho. Mas ela também considera a data do seu acidente, 28 de outubro de 2020, como seu segundo aniversário. — “Ali eu praticamente renasci”.
Parabéns Thalita! O Vez & Voz te deseja muitas alegrias. Feliz 25 anos para você.
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